Desespero de poeta.
Eu a carpir lágrimas.
A esculpir orvalhos...
A suor despudoradamente em público.
Eu a exibir um sorriso de Mona Lisa.
Um olhar infinitesimal.
Como reticências acorrentadas no abismo.
Buscando decifrar significados.
Enigmas. Mistérios concebidos e prematuros.
Buscando o lirismo abarrotado de comédia.
O que levo na alma, não cabe na mala.
Aliás, para quê ter malas?
Guardar é indiferente.
Temos arquivos mentais, retinas registradoras.
Mãos atenciosas a decorar o contexto.
Carrego tanta coisa.
Sou acumuladora.
Tenho que me despedir de lembranças.
De esperanças...
E, pior, das crianças que conheci.
Da criança que fui...
Da infância que tive ou não tive.
Do vestido do baile.
Ah... era branco... lindamente opulento.
Tinha que caprichar no penteado.
Eu que nunca gostei de pentear os cabelos
Há no cenário, morros empalidecidos.
Nuvens curiosas que cercam os morros.
E, ainda, há uma chuva branda a molhar
tudo... como se fôssemos líquidos
e, apenas estivéssemos sólidos,
por pura impertinência...
Ou será demência.
Por vezes, recordo-me da sala de aula.
Da necessária boa caligrafia.
Do reino encantado da educação.
Mas, o mundo vai além da escola.
Mas, é uma pena...
Descobrimos máscaras.
Desmascaramos farsas.
As hipocrisias sutis.
Ou a crassa arrogância
daqueles que pensem que nos enganam...
Quem avisará à eles que estão enganados?
Quem cuidará dos negligentes?
Quem irá socorrer os indiferentes que foram
esquecidos nos umbrais dos kharmas.
E, eu a carpir lágrimas.
Silenciosamente.
A esculpir a paupérrima
existência em parcos meandros.