Não lhe dei minha poesia.
Dei-lhe meu corpo.
E, a alma se esvazia
Pois os sentidos não são emoções.
Não lhe dei minha alegria.
Dei-lhe apenas um pouco.
E, o espírito se enraíza
Pelas emoções sentidas e ressentidas.
Lá fora, o orvalho mira a chuva.
E, chuva brinda o orvalho
sobre a folha e a flor.
A primavera é viúva.
Do inverno que feneceu lá fora.
Minhas mãos firmes ainda seguram canetas,
lápis, pincéis...
Remanejam palavras, silêncios e tonéis.
Bebo as sílabas líricas
de nossa despedida.
Seus olhos.
Suas lágrimas.
E, seu suor de soldado romano.
A manejar a espada e o escudo.
E, eu, a manejar a flechada e o submundo.
Não lhe dei um olhar sóbrio.
Inebriado de amor gótico.
De palavras sagradas.
De ritual mórbido.
O fim é apenas o fim.
E, então, um novo recomeço.
O mundo me deu essa ferramenta.
Uma inexorável ironia.
Rir de tragédias cômicas.
Ou, apenas de comédias trágicas.
Recomenda-se morrer
com alguma elegância.