Cegueira iminente
Minha poesia está ficando cega.
Perdendo a visão.
E a luz será apenas memória.
Minha poesia está embaçada.
Olhos vetustos.
Olhos envelhecidos sem carvalhos
e sem malte.
Voltarei um dia, a sonhar com
que vi.
Minha poesia está a capengar
Pelas noites e tropeçando nas estrelas
Pedindo desculpas.
Por existir e envelhecer.
A luz será saudade.
As nuvens serão miragens.
O caminho tateado pelo instinto
Inclui tropeços e quedas.
Dores e sustos.
Mas, no fundo, acho que já vi tudo.
Acho que viram tudo.
Inclusive a tristeza poética
de quem tem catarata
Que transborda cegueira e opacidade.
E, nos deixa solitários
numa eterna sombra sem fim.