"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


Porque beleza é fundamental.

Parce que la beauté est fondamentale.

 

 

Resumo: A estética sempre esteve relacionada às reflexões filosóficas, a crítica literária e até a história da arte. O belo em qualquer época está envolto de pensamentos, sentimentos e conceitos que constroem a sociedade. Mas, os padrões estéticos não são eternos, variam em todos os sentidos. E, para melhor entender o universo estético é necessário entender vários sentidos da humanidade, a cultura, a religião, a economia, a sociedade e, principalmente regimes políticos e percepções psicológicas. “No belo, o ser humano se coloca como medida da perfeição”. Nietzsche

Palavras-chave: Beleza. Estética. Filosofia. Sociologia. Belo.

 

Résumé: L’esthétique a toujours été liée aux réflexions philosophiques, à la critique littéraire et même à l’histoire de l’art. La beauté à tout moment est entourée de pensées, de sentiments et de concepts qui construisent la société. Mais les normes esthétiques ne sont pas éternelles, elles varient dans tous les sens. Et pour mieux comprendre l’univers esthétique, il est nécessaire de comprendre diverses significations de l’humanité, de la culture, de la religion, de l’économie, de la société et, principalement, des régimes politiques et des perceptions psychologiques. « Dans le beau, l'être humain se place comme mesure de perfection ». Nietzsche

Mots-clés: Beauté. Esthétique. Philosophie. Sociologie. Beau.

 

Para entender o conceito de beleza, precisamos imergir na concepção de belo da filosofia grega. Aliás, os gregos entendiam o belo como o perfeito equilíbrio das formas, de forma matemática e precisa, sendo sinônimo de perfeição.

Aristóteles, Platão e Sócrates bem como outros filósofos entendiam que a vida e a arte eram regidas por: equilíbrio, simetria[1], harmonia e proporcionalidade.

De fato, a beleza se refere a um conceito complexo e, a depender da cultura e do modelo estético de cada época.  Assim belas estruturas apresentam simetria de formas e cores, o que resulta em sensação agradável de proporcionalidade e equilíbrio.

Enxergamos na natureza diferentes simetrias, colocadas em diferentes escalas, através de arranjos peculiares de átomos, células e tecidos ou, até mesmo, no formato de galáxias.

A beleza tem sua existência em si mesma, no objeto ou nos estímulos sensoriais externos e, cada pessoa representa apenas mais um sujeito passivo contemplativo.

Atualmente, ao revés, sabemos que a beleza é algo subjetivo e criado pelo ser humano e não está fora do sensorial. Está, em verdade, em uma construção mental, sendo composta de percepções, emoções, sentimentos e conhecimento.

Assim, a apreciação da beleza é, em grande medida, produto da experiência pessoal e da própria educação recebida e assimilada. Há beleza na pintura, na música, na escultura e, até, em comportamento.

Na música, por exemplo, a apreciação estética é muito multifacetada, existem sustenidos harmônicos, contrapontos, acordes, ritmos e, ainda, as infinitas combinações de tons graves, agudos e pausas, e que podem ser percebidos de modo tão diverso por tantas pessoas diferentes.

O prazer é uma expressão emocional inconsciente, é componente básico na apreciação da beleza.   Mas, não o prazer relacionado a esses prazeres básicos, como aqueles que sustentam a sobrevivência da pessoa, tais como obtidos a partir da comida, bebida, da sexualidade, do jogo ou do sono, ou quando estamos privados deles.

O prazer associado à beleza não é o prazer do desejo e do orgasmo que consumado nos empurra, sem razão, tal qual uma isca engolida, a manter-se vivo (William Shakespeare)[2].

O prazer, o deleite referido à beleza é conseguido pelos ingredientes neuronais adicionados no cérebro àqueles outros mais básicos. (...) São prazeres gerados em parte pela cultura em que se vive e além do cérebro emocional e de sua atividade primitiva.

São prazeres que surgem de uma interação muito próxima entre o córtex cerebral humano e o cérebro emocional, por isso nenhum animal os possui.  Dessa interação nasce a consciência, a compreensão, o entendimento, a razão humana a interação com as coisas do mundo (percepção), produz o conhecimento, o outro ingrediente básico para a percepção da beleza.

Porque a beleza é isso em sua essência, prazer e conhecimento e, neste último, a capacidade cognitiva de perceber a ordem, a proporcionalidade, a simetria, a clara delimitação do que é percebido.

E tudo isso, tem muito a ver com a educação recebida e com a cultura em que nascemos e vivemos. (...) Basta lembrar que poucos cidadãos da Idade Média[3] ou até do Renascimento poderiam ter encontrado beleza nas figuras humanas torcidas, nos vermelhos policromados e flamejantes das árvores, nos amarelos vivos dos campos de trigo ou nos azuis giratórios e atormentados das pinturas de Van Gogh, ou na obra de Antonio Gaudí[4] (...).

Ou nas redondilhas das mulheres que eram fortes e bem nutridas, pois afinal o que seria considerado hoje “gordinho” ou acima do peso nos fazia lembrar que vinham de classes sociais ricas e com franco acesso à comida, o que na Idade Média não era comum.

A arte, portanto, e com ela a beleza, é uma verdade subjetiva para cada um. Verdade para a qual muitas pessoas tiveram expressões como "valeu a pena viver para experimentá-la".

Sem dúvida, a beleza é um fenômeno cerebral que mudou o mundo dos seres humanos e as mitologias e verdades vivas de cada sociedade, cultura ou nação.  Realmente, a beleza, que não existe no mundo, é talvez um dos grandes prodígios criados pelo cérebro humano.

A beleza da teoria de Einstein sobre a gravidade, o espaço-tempo e o cosmos chegaram a um século, exatamente em 8.3.2015. Segundo o cientista britânico Francis Crick que afirmou que o único filósofo da história que obteve sucesso foi Albert Einstein, o que chegou a irritar muitos filósofos.

Afinal, Einstein chegou a formular a Relatividade Geral[5], sua grande teoria sobre a gravidade, o espaço, o tempo e o cosmos, que completou mais de cem anos. Porque Einstein partiu menos dos dados que da intuição, menos do conhecimento que da imaginação e, apesar de tudo, chegou à teoria que não apenas se mostrou extremamente eficaz e frutífera, mas que é reconhecida entre seus principais colegas como sendo a mais bela da história da ciência.

O conceito de beleza é, até hoje, regente de noções sobre o tema. E, a arte como um dos modos de representação do imaginário humano que se criava sobre a beleza na Grécia Antiga que tanto nos inspiraram e ainda nos inspira. Vejam a Vênus de Milo um exemplo do padrão clássico de beleza.

Tinha proporção áurea[6] que definiu a forma exata do belo. Belo representa também uma forma numérica, o que se considerava figura harmoniosa e o valor era de aproximadamente 1.6180. E, tal número era obtido através do resultado da divisão de A por B seja igual o resultado da divisão da linha inteira A + B, pela parte maior A.

A proporção áurea pode ser achada em diferentes elementos na natureza e indicava para os gregos quanto uma pessoa era bela. Essa forma clássica de beleza nos faz perceber as questões estéticas do período do Renascimento entre meados do século XIV e o fim do século XVI.

E, naquele momento, o padrão estético greco-romano voltava a definir a construção do humano e se tornava cada vez mais uma figura bela, boa, poderoso e sendo um objeto de estudo da época.

Lembremos do Homem Vitruviano[7], de Leonardo da Vinci que representou o ideal clássico do equilíbrio, da beleza, da harmonia e da perfeição das proporções do corpo humano.

E, na obra intitulada "A história da beleza" de 2004 de autoria de Umberto Eco onde cogita sobre os percursos do significado do belo na história da arte no Ocidente. E, na obra, o autor pontua as influências culturais e transformações da sociedade são fatores que alteraram a noção de belo.

Eco parte do princípio de que o sentido da Beleza é mutável e diverso do sentido do desejo: “O sequioso que ao dar com uma fonte precipita-se para beber não lhe contempla a Beleza. Poderá fazê-lo depois, uma vez satisfeito o seu desejo.”

 A partir daí, o autor evita as ideias preconcebidas de beleza para passar em revista tudo aquilo que, em determinada cultura ou época histórica, pareceu agradável à contemplação do homem independentemente do seu desejo. Até o feio, o cruel e o demoníaco merecem contemplação de Umberto Eco, servindo como parâmetros para a existência do Belo.

 A obra não é uma história da arte, nem um estudo de estética, mas vale-se de ambos para delinear a ideia de beleza desde a Antiguidade até os nossos dias.

 Em dezessete capítulos, dos quais escreveu nove (os outros são de autoria do escritor italiano Girolamo de Michele), Umberto Eco reflete sobre as diversas transformações do conceito de Beleza não apenas no mundo das artes, como em diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, a teologia, a ciência, a política e a economia.

Além de ser belissimamente ilustrado, a obra se utiliza de uma linguagem absolutamente original e inteligente para discutir conceito tão complexo. Recorrendo a imagens de centenas de obras-primas e a uma vasta antologia de textos de Pitágoras até os nossos dias.

Não é possível dar uma definição absoluta de belo, embora se possa estudar suas várias acepções no curso da história. A dificuldade de conceituar o belo acompanha a história da filosofia, desde a Grécia Antiga. "Toda beleza é difícil", indicou Sócrates (469-399 a.C).

Sem pretender recuperar as discussões sobre o tema, pode-se desenhar duas ênfases que recortam as reflexões sobre o belo na tradição filosófica: uma que o define como ideia objetiva (Aristóteles, na Metafísica, afirma: "As principais formas de beleza são a ordem e a simetria e a definição clara") e outra para a qual a beleza é determinada pela experiência de prazer suscitada pelas coisas belas (nos termos de Platão, em O Banquete). Kant (1724 - 1804), na Crítica do Juízo (1790), propõe a superação da polaridade ao distinguir a beleza de qualquer juízo racional ou moral. Desse modo, defende o caráter não determinado do juízo estético.

Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números. Para eles, o número, sinônimo de harmonia, constituído da soma de pares e ímpares - os números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação -, era considerado como a essência das coisas, criando noções opostas (limitado e ilimitado) e sendo a base da teoria da harmonia das esferas.

Segundo os pitagóricos, o cosmo é regido por relações matemáticas. A observação dos astros sugeriu-lhes que uma ordem domina o universo. Evidências disso estariam no dia e noite, no alterar-se das estações e no movimento circular e perfeito das estrelas. Por isso o mundo poderia ser chamado de cosmos, termo que contém as ideias de ordem, de correspondência e de beleza.

Nessa cosmovisão também concluíram que a Terra é esférica, estrela entre as estrelas que se movem ao redor de um fogo central. Alguns pitagóricos chegaram até a falar da rotação da Terra sobre o eixo, mas a maior descoberta de Pitágoras ou dos seus discípulos (já que há obscuridades em torno do pitagorismo, devido ao caráter esotérico e secreto da escola) deu-se no domínio da geometria e se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. A descoberta foi enunciada no teorema de Pitágoras.

Afinal, Eco investiga as múltiplas ideias de Beleza expressadas e discutidas da Grécia antiga até hoje, traçando paralelos que podem parecer um tanto inusitados, como, por exemplo, entre a nudez da Vênus de Millo[8], do século II A.C.; ou entre o corpo atlético do Apolo do Belvedere, exibido no Musei Vaticani, em Roma, e os bíceps anabolizados de Arnold Schwarzenegger no filme Comando, antes de o ator se transformar em governador da Califórnia, nos EUA.

Ainda segundo Umberto Eco, o senso estético pode ser compreendido como construções históricas que criaram preconceitos. E, cogitou o autor sobre as Bruxas que foram perseguidas pelo motivo de serem consideradas feias, dotadas de aspectos desagradáveis. Eram entendidas como inimigas a serem limadas porque tudo que era feio, as pessoas não deveriam gostar. Pois, por muito tempo, o belo e o bem foram intimamente associados.

 Já no período do Romantismo, os clássicos padrões de beleza foram rompidos e a pessoa tinha maior liberdade para criar e expressar a sua arte. 

E, nos estilos artísticos que apareciam na Arte Moderna (tais como cubismo, impressionismo e futurismo), as expressões artísticas do belo que se destacavam ainda mais de concepções anteriores e os artistas procuravam novas formas de expressão nas cores e formas. Lembremos do quadro de Pablo Picasso intitulado Le Demoiselles d'Avignon[9], onde os corpos de mulheres que foram representados por linhas irregulares e deformadas.

Para outros autores que discutiam a problemática: " A beleza está nos olhos de quem vê?", David Hume entendia que a beleza se encontrava nas condições de recepção do sujeito.

O filósofo empirista acreditava que a experiência das pessoas determinava como estas entendiam a beleza. Partindo dessa ideia, cada cultura, cada povo, cada contexto, cada vivência é diferente, e desta forma, o conceito de belo pode variar. Adquirindo uma dinâmica sócio-histórica.

O referido filósofo ainda concluiu que a beleza não qualidade própria das coisas. Existe somente no espírito que a contempla e cada espírito percebe uma beleza diferente. No olhar de Hume[10], pode-se considerar que não existe uma beleza única. Na atualidade, ainda que seja um desafio olhar o belo por uma ótica plural, cada vez mais existem questionamentos acerca dessa temática.

Na etimologia a palavra belo advém do latim bellus, que significa lindo, bonito, encantador. Pode ter vindo também do indo-europeu aproximando-o de outros termos, como bônus, de bom e bene, de bem.

Toda a discussão sobre a beleza e seu significado teve seu princípio na Estética grega e está baseada na concepção de mundo dos filósofos da época, e para eles, a vida e arte se fazem baseadas em equilíbrio, simetria, harmonia e proporcionalidade.

Sócrates acreditava que o belo era uma concordância observada pelos olhos e ouvidos, isto é, o belo é permissível através dos sentidos sensoriais. O belo, segundo o filósofo, é o útil, isto é, a beleza não resta associada à aparência de um objeto, mas em quão proveitoso ele for, teria então caráter prático, como o resultado de um produto ou situação prática.

Já segundo Platão[11], o belo está relacionado a uma essência universal e não depende de quem observa, pois está contido no próprio objeto, na criação. Acreditava também que tudo o que existe no mundo sensível (imperfeito) é apenas uma cópia do que está no mundo inteligível (perfeito).

Um dos seus mitos mais conhecidos, que é O mito da caverna que trouxe uma alegoria esclarecedora sobre nossa percepção em relação à realidade que é produto de uma construção subjetiva e muitas vezes, influenciada por um inconsciente coletivo que nos condiciona e aprisiona, tais como os padrões de beleza atuais.

Segundo Aristóteles que fora discípulo de Platão construiu um conceito de belo. Para o filósofo, uma obra de arte e, por excelência, segundo o filósofo, a catarse se dá na tragédia. Afinal, era por meio do teatro trágico que as pessoas refletiam sobre o que a obra mostrava.

Ao contrário da comédia que, apesar de divertida, não promovia uma reflexão, mas apenas um estado de “entusiasmo” temporário sobre condições humanas pouco nobres ou, ainda sim, que não eram belas segundo a sociedade grega clássica.

Na Grécia Antiga, togas e roupas simples eram comuns. Na Roma Antiga, as togas também eram usadas, mas de forma mais elaborada por pessoas de status mais elevado.

Mulheres gregas valorizavam uma pele clara e usavam pós faciais à base de gesso e cal. Os cabelos eram muitas vezes elaborados arrumados e decorados com joias.

Na era na Grécia Antiga, togas e roupas simples eram comuns. Na Roma Antiga, as togas também eram usadas, mas de forma mais elaborada por pessoas de status mais elevado.

Mulheres gregas valorizavam uma pele clara e usavam pós faciais à base de gesso e cal. Os cabelos eram muitas vezes elaborados arrumados e decorados com joias.

Na Era Vitoriana[12] (século XIX e início do Século XX o padrão de elegância compunha vestidos longos e volumosos para as mulheres, frequentemente com espartilhos para afinar a cintura. Para os homens, casacas e cartolas eram bem populares.

A pele clara era valorizada e, as mulheres usavam pós faciais para alcançar e realçar esse tom de pele. E, os cabelos eram penteados habitualmente de modo elaborado e decorado com acessórios.

Nos anos de 1920 os vestidos se tornaram curtos e soltos, chapês cloche e o estilo flapper eram emblemáticos. Popularizaram-se os cabelos curtos e com ondas, maquiagem mais ousada com lábios escuros e olhos bem delineados.

Nos anos sessenta surgiram as minissaias, calças boca de sino, cores vibrantes e estampas psicodélicas estavam na moda. Maquiagem com destaque nos olhos, cílios postiços, delineador marcante e cabelos volumosos.

Nos anos oitenta surgiram as ombreiras, as cores vivas, as roupas extravagantes, jeans justos eram firme tendência. Maquiagem brilhante, cabelos volumosos e cores ousadas nos lábios.

Dos anos 2000 até 2010 o vestir era composto de Jeans de cintura baixa, moda esportiva, leggings, e influência de celebridades. Sobrancelhas finas, gloss labial, pele bronzeada e cabelos lisos.

Após 2020 até os presentes dias, a sustentabilidade na moda, moda inclusiva, roupas confortáveis e tecidos tecnológicos. Valorização da diversidade, maquiagem natural, skincare e cabelos com textura natural.

A estética esteve ligada às reflexões filosóficas, a crítica literária ou a história da arte. Compreender o belo contemporâneo nos faz refletir sobre pensamentos e conceitos que constituem a sociedade. Os padrões estéticos não são eternos, variam no tempo e no espaço, de uma região à outra, de uma cultura a outra.

Para entender universo cultural estético é preciso identificar os principais fragmentos históricos da beleza, buscando-os nas diferenças entre os povos que podem ser influenciadas por fatores como o clima, crenças religiosas, história da sociedade.

A busca da beleza e do esteticamente belo e perfeito, de acordo com Schubert (2009) é tão antiga quanto à existência da humanidade. O estilo e asseio pessoal se transformaram ao longo da história e refletiram as tradições, os costumes de períodos específicos.

Assim, os padrões de beleza modificam-se a cada época em função da evolução comportamental. E, se idealiza a estética e a beleza conforme o padrão seja considerado como o ideal.

A etimologia da palavra estética vem do grego aisthesis, que significa a capacidade do ser humano de sentir a si próprio e ao mundo num todo integrado. E, o oposto seria anestesia que é a perda das sensações.

A palavra em grego para percepção ou sensação, era aisthesis, que significa, na origem, inspirar ou conduzir o mundo para dentro. A aisthesis trata da relação com o mundo.

A estética sempre esteve ligada as reflexões filosóficas, a crítica literária ou a história da arte. Em diferentes épocas e culturas têm seus modelos ou padrões peculiares de beleza. E, para melhor entender o belo contemporâneo, teremos que nos dirigir aos pensamentos que constituem e permeiam toda a sociedade humana.

Para os filósofos antigos, a respeito dos estímulos da física e da metafísica, desenvolveram diálogos estéticos e críticas para compreender o problema estético e, Croce destacaram-se de modo negativo.

Platão com negação do valor da poesia, positivamente, com a defesa de Aristóteles que tentou garantir à poesia um domínio próprio entre a história e o da filosofia e, por outro viés, com as especulações de Plotino que pela primeira vez, juntou os dois conceitos que vagavam divorciados, o da arte e do belo.

Plotino mostra que todo o percurso cognitivo que a atividade contemplativa da alma deve sofrer para conseguir atingir a visão do universo inteligível, descrevendo essa realidade inteligível como uma identidade de ser, pensamento e intelecto, além de essência fundadora e verdadeira da alma.

A noção da beleza (kállos) na filosofia de Plotino está intrinsecamente relacionada aos três níveis da realidade por ele distintos, ou seja, a Alma (psukhé), o Intelecto (noûs) e o Uno (hén), não se restringindo assim às disciplinas artísticas ou a um campo de expressão que possa vir a constituir uma Estética, pois ela deve ser apreendida a partir de uma visão metafísica.

Com a filosofia moderna, a estética segundo Crocce[13] entre seiscentos e setecentos, separa a arte do sentimento estético. Cumpre ressaltar ainda de acordo com Adorno[14], Kant foi o primeiro a adquirir o conhecimento, segundo o qual o comportamento estético está isento dos desejos imediatos, referiu-se a estética como a ciência do belo.

Em sua obra intitulada “Crítica da Faculdade do Juízo”, Kant[15] compreende que:" Não pode haver nenhuma regra de gosto objetiva, que determina por meio de conceitos, o que seja belo. Pois, todo juízo proveniente desta fonte é estético, isto é, sentimento do sujeito e não o conceito de um objeto é seu fundamento.

Procurar um princípio de gosto, que fornecesse o critério universal do belo através de conceitos determinados, é o seu fundamento determinante. Procurar um princípio de gosto, que fornecesse o critério universal do belo através de conceitos determinados, é um esforço infrutífero, porque o que é procurado, é impossível e em si mesmo contraditório. (Kant, apud CEIA, 1790).

Em contrapartida, segundo Bayer foi Baumgarten foi o primeiro esteta a possuir uma doutrina de beleza e a separar o belo da ciência e a considerar a estética como ciência. O fim da estética é estabelecer o que é beleza e o conhecimento sensível é o belo.

Há três aspectos destacados por Baumgarten, a saber: "Reside primeiro num acordo dos pensamentos abstraindo da ordem por que se apresentam e dos sinais que servem para exprimi-los; o acordo desses pensamentos entre si, num só elemento é fenomenal. (...) A beleza é o acordo da ordem interna segundo a qual arrumamos as coisas belamente pensadas. Mas a ordem das coisas é uma ordem interna que deve ser sentida e não pensada. (...)”.

Finalmente, a terceira definição da beleza, que segundo o pensador, é o acordo dos sinais, acordo interno, acordo com os pensamentos e o acordo com as coisas. É o acordo da expressão, da dicção com os pensamentos, com a ordem por que se arrumam e com as próprias coisas. (Baumgarten apud Bayer, 1978, p. 180-181).

No século XIX, Hegel influenciado pela escola de Baumgarten[16] e pelas ideias de Kant, defendeu o pensamento que o belo não é uma realidade absoluta e intocável pelo ser humano, o belo é resultado do trabalho humano realizado em comunidade.

O belo, para Hegel, é uma ideia do espírito artístico, ou seja, uma unidade imediata do conceito e de sua efetividade tal como ela se apresenta em seu aparecer para as nossas sensações.

O belo será o que satisfaz o voo livre da imaginação, sem estar em desacordo com as leis da Verstand[17]. O objeto belo não é um sistema artificial de meios, mas antes uma disposição de partes habilmente calculada com a mira num fim distinto de si mesmo.

Lembremos que os padrões estéticos não são eternos, variam no tempo e no espaço e de uma região à outra. As diferenças entre os povos podem ser influenciadas pelo clima, as crenças religiosas, a história da sociedade, os regimes políticos, os sistemas econômicos, etc. Para melhor compreender o universo cultural estético, deve-se identificar os principais fragmentos históricos da beleza.

Os egípcios foram os primeiros a cultivar a beleza de uma forma extravagante. E, usavam os cosméticos como parte de seus hábitos de embelezamento pessoal, para cerimônias religiosas e ao preparar os mortos para o enterro.

Um dos usos mais correntes eram da henna que era enfeito no Antigo Egito, para a arte corporal e as unhas. Enfim, para aquele poco, a limpeza era forma de proteção contra o mal e também contra as doenças.

Já os antigos hebreus tinham diversas técnicas de asseio e cuidados com a pele. Em razão de sua natureza nômade, eles adotavam muitas técnicas de outras culturas. Os rituais de asseio dos hebreus eram fundamentos no princípio de que o corpo era um presente, que deveria ser bem cuidado. Os cosméticos eram usados, principalmente, para a limpeza e conservação da pele, dos cabelos, dos dentes e da saúde em geral.

Usavam azeite de oliva e óleo de semente de uva para hidratar e proteger a pele. E, preparavam pomada de hissopo (uma planta aromática encontrada originalmente perto do Mar Negro e da Ásia Central) para limpeza, e também bálsamos de canela para conservar o calor do corpo. A mirra e a romã eram os produtos mais úteis para eles: a mirra em pó era usada como antisséptico e ajudava a repelir os vermes intestinais.

Os padrões de beleza e harmonia criados na Grécia Clássica (no século V e IV d.C.) são imitados até hoje. Os gregos nos transmitiram o gosto pela harmonia, pela proporção das formas, pelo equilíbrio perfeito.

O ideal grego incluía a perfeição da mente e do corpo. E, os atletas gregos eram a definição do equilíbrio entre mente e o corpo. Os gregos enxergavam o corpo como um templo, tanto que costumavam a banhar em azeite de oliva e polvilhar uma areia fina por cima, para regular a temperatura do corpo ese proteger do sol, mostrando que conheciam muito bem os efeitos dos elementos naturais sobre o corpo e o processo de envelhecimento.

Enfim, na sociedade contemporânea a prática do culto ao corpo e a beleza institui a sua explicação e centralidade, transformando-o em componente do mercado de consumo, como sujeito ou objeto de consumo, integrado as indústrias de cosméticos, roupas, objetos eróticos, clínicas de estéticas, academias de ginásticas, publicidade, técnicas médicas, sob a lógica do sistema da moda. Saliente-se que a indústria cultural[18], através dos meios de comunicação encarrega-se de criar desejos e reforçar imagens padronizando os ideais de beleza associados à juventude.

Para Le Breton[19], o corpo moderno é resultado do individualismo e do descolamento da pessoa do todo comunitário, causando-lhe um sentimento de si mesmo, antes de sentir-se membro de uma comunidade.

Para Roland Barthes (1982), a imagem corporal deve ser compreendida como um fruto da influência que o ambiente exerce sobre o sujeito, em um processo em que as representações corporais estão em constante transformação. Assim, segundo o autor: "meu corpo é para mim mesmo a imagem que eu creio que o outro tem deste corpo" (Barthes, 1982)[20].

 De fato, podemos admitir que a beleza é representada como dever cultural, em contrapartida, a obesidade assume lugar de diferenciação, chegando aos dias contemporâneas como forma de exclusão. Cogita-se em franca gordofobia[21]. Aliás, ser magro é sinônimo de ser belo, é ser jovem, isto é, ter a aparência jovem é extremamente valorizada.

Na contemporaneidade, a beleza estética a norteia a ideia de que para ter reconhecimento social o único caminho é seguir o padrão de beleza estipulado pela sociedade. A busca a todo custo em atender a este padrão de beleza quando não atingido pode determinar o aparecimento de baixa estima, causando depressão, e transtornos psicológicos, alimentais e morais.

O terrorismo contemporâneo em referência à beleza tem menos a ver com grau de repetição das mensagens do que com a evolução da mesma, devido inclusive à sua democratização. O que é normativo para a mulher atual não é o fato de modelos de beleza ser impostos, uma vez que isto sempre existiu, nem mesmo que seja dito que ela deve ser bela, mas o fato de afirmar-se, sem cessar, que ela poderá ser bela, se assim o quiser.

Nos séculos passados, podíamos até culpabilizar a natureza, atualmente, a negligência é a responsável o que transformou a culpa em individual.

O predomínio do bem-estar é considerado primordial no mercado da beleza. E, então, as aparências são unificadas, emagrecer é obrigação rigorosa e generalizada. E, as dietas são adaptadas ao estilo da vida individual. O peso ideal será aquele em que você se sinta bem e, em harmonia com seu corpo. A obesidade é conhecida como estilo de vida e até liberdade. Onde, cada um é o principal responsável pelo seu estado físico[22].

Atualmente, poderá associar hoje o corpo à ideia de consumo. De fato, atualmente o corpo é objeto de valorização exacerbada, dando oportunidade de crescimento no mercado do músculo e ao consumo de bens de serviço destinado a manutenção deste corpo. E, aquele corpo esculpido, músculos bem torneados, mais do que um índice de saúde é também resultado de interesses.

Por trás, de cada fibra muscular enrijecida há grande investimento em novos aparelhos de ginásticas, programas de condicionamentos e anabolizantes e coisas similares.

Esforçamo-nos muito a cada ano com exercícios massacrantes, para que no verão haja a recompensa e poder ir à praia e expor nosso corpo sem vergonha. E, disciplinamos o corpo a frequentemente com a academia de ginástica e demais ingredientes capazes de colocar o corpo capaz de angariar reconhecimento social e aprovação.

O corpo está em alta sendo apto a ter alta cotação, produção, investimento e, naturalmente, alta frustração. Em alta também está a cirurgia estética que é realizada para dar nova forma às estruturas normais do corpo, com o fito de melhorar a aparência e a autoestima. A superexposição na mídia afeta a percepção escorreita do papel dessas cirurgias na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Há críticas de que sejam somente mais um modismo ou futilidade.

Cumpre destacar que a relação existente entre o corpo e a moda está eivada de ambiguidades e tensões, na medida em que a moda atua na formatação do corpo, ao valorizar determinadas zonas, aumentar ou reduzir volumes corporais, enquanto o corpo, por sua vez, limita a moda, impondo os parâmetros objetivos de proporção, volume e medidas para a criação do estilista.

A mídia leva ao leitor as últimas novidades e as mais recentes descobertas tecnológicas e científicas, ditando e incorporando tendências. A mídia tem influência certeira na opinião pública. A mídia não diz ao público como pensar, mas sobre o que pensar.

As mídias e suas publicidades por sua vez, provocam profundo efeito sobre a percepção dos indivíduos no que tange ao corpo. Assim, potencializa a difusão e capitalização do culto à beleza padronizada, constituindo assim o que podemos denominar de indústria da beleza.

Noutras palavras, o corpo foi transformado em mercadoria e o desejo de beleza é imperioso. Os corpos são transfigurados, transformados, construídos de acordo com a dinâmica e os modelos estabelecidos pelos meios da comunicação em massa.

A estética do belo foi apreciada e estudada fundida com a lógica e a ética. O belo, o bom e o verdadeiro fundavam uma unidade com a obra. O belo tinha como problemática desvendar a fonte original de todas as belezas sensíveis. Com a filosofia moderna, através da doutrina de Kant[23] a estética foi considerada a ciência do belo[24]. Mais tarde, Baumgarten separou o belo da ciência e considerou a estética como uma ciência.

A estética pode ser considerada como ciência moderna, recentemente, constitui-se em ciência independente com método peculiar e próprio. Mas, verificou-se que desde a pré-história, homens e mulheres usavam produtos extraídos da natureza para embelezamento, demonstrando a preocupação com a aparência.

Também costumavam usar mel e azeite de oliva para a proteção contra o clima e sempre estavam buscando formas de melhorar sua saúde e aparência. Esse amor pela perfeição tornou os gregos os pioneiros nas técnicas avançadas de asseio e cuidados com a pele.

Os antigos romanos eram célebres por suas casas de banho que eram construções públicas magníficas com partes separadas para homens e mulheres. E, suas ruínas sobreviveram até hoje. Tratamento com vapor, massagens e outras terapias físicas que estavam disponíveis em tais casas de banho

Mais tarde, na Idade Média[25], o ideal de beleza feminina favorecia as mulheres de pele bem clara, cabelos louros e certo ar virginal. Nesse período histórico, a religião cumpria uma função dominante na vida das pessoas. E, a cura era feita principalmente com ervas e plantas e estava a cargo da Igreja. 

A cultura da beleza também era praticada, porém, o clero combatia vigorosamente a maquiagem que era considerada uma prática sedutora e conduzia ao pecado. Tapeçarias, esculturas e outros artefatos medievais mostram perucas altíssimas, penteados complexos e o uso de cosméticos na pele e, também, nos cabelos.

A nobreza começa a mudar de função de função na sociedade e no Renascimento os cavalheiros têm a necessidade de participar das guerras e passavam grande parte dos tempos nos palácios, fazendo política e se dedicando na arte da sedução.

O luxo se torna mais visível, homens e mulheres passam a usar joias e a maquiagem ganha maior relevância. Uma das práticas mais comuns era depilar as sobrancelhas e a linha dos cabelos para mostrar uma parte maior da testa, acreditava-se que isso faziam as mulheres parecerem mais inteligentes.

As fragrâncias e os cosméticos eram usados e os cabelos eram meticulosamente penteados e enfeitados com ornamentos ou perucas. As representações do corpo feminino nas obras passam a valorar os seios e as nádegas que ganhavam contornos fortes e mais curvilíneos.

Foi a partir do século XIX iniciou uma nova era na concepção de beleza. Os comportamentos se alteram, o elegante era visto nos pequenos e mínimos detalhes e não no exagero. E, as mulheres passam a ostentar maneiras mais discretas e o traje masculino se uniformiza. A burguesia buscava uma aparência mais natural e saudável. E, nasceu a sociedade de consumo, onde as indústrias criam artigos de beleza em larga escala, os tornando mais baratos.

Com o século XX, ocorreram muitas mudanças e cuidados com a pele e deu-se a inovação em termos de culto a beleza. A cada década a estética mudava, enquanto no começo da história tais modificações demoravam cerca de um século. Essas mudanças se efetivaram, principalmente, em função da exposição maior a outras culturas e a industrialização das civilizações.

Assim, viagens, jornais, revistas, rádios e o cinema se tornaram as principais fontes de informação. e, os costumes e comportamentos alteraram-se, e as mulheres passaram a adotar hábitos que antes eram exclusivamente dos homens, como fumar, beber em público, discutir política, seguir uma profissão e, afirmar a sexualidade. Umas das inovações com maior peso simbólico foi à moda do cabelo curto para as mulheres.

Já nos anos sessenta consagraram o visual unissex composto de calças jeans, sapatos baixos, cabelos compridos para homens, enfim novas maneiras de comportamento e de vestimenta e passaram ser comuns a ambos os sexos. E, apesar dessa tendência de aproximação da aparência entre homens e mulheres, os papéis sociais continuaram a ser distintos e a se basear em padrões de beleza diferentes.

Os homens devem ser musculosos e aparentar ter certa agressividade e, ainda, obiter poder seja pelos bens de consumo, pelas despesas significativas ou com cargos de chefia. Contudo, a mulher é bem mais cobrada do que o homem em relação à beleza do que com o poder.

Os corpos definidos pela malhação em academia e emagrecidos através de dietas, maquiagem, e até operações cirúrgicas bariátricas, dão o tom da moda, cabelos pintados para encobrir cabelos brancos, unhas embelezadas, pêlos depilados, cremes para rejuvenescimento fazem parte do cotidiano para se ter a beleza ideal.

Com a chegada dos anos noventa, a moda mudou rapidamente. E, além de modelos magérrimas veiculava novo padrão de beleza. E, os modelos de roupas, cores, comprimento de saia, altura de cós das calças, estilos de maquiagem e, mesmo o tom de pele podem marcar a moda e variam de uma estação à outra.

A ciência renovou à estética, a beleza se constrói pela técnica e os materiais. As pesquisas se multiplicam, a revolução da cosmetologia alavancada a descoberta de novos produtos e a maquiagem tornou-se objeto fundamental do uso cotidiano.

O início do século XXI trouxe a nanotecnologia[26] e a arte de manipular os materiais em escala atômica ou molecular, isto é, deu-se a micronização dos ingredientes.

E, modificando as propriedades químicas e transformando-as em unidades cada vez menores, essa técnica revigorou os ingredientes já testados e, ainda, criou novos diminuindo as reações adversas. Os aparelhos ficam cada vez mais sofisticados e os tratamentos cosméticos são personalizados, destinados especificamente para cada tipo de pelo, raça, idade e gênero.

Enfim, o corpo segundo Vigarello o corpo se tornou o nosso mais belo objeto de consumo. E, as revistas generalizaram a cultura da estética e dos cuidados com a aparência. E, o consumo acompanha o embelezamento, as vendas de cosméticos corporais aumentaram entre 2000 e 2001, o número de salões de beleza multiplicou e as operações de estética em cirurgia estética obtiveram grande progresso.

Com a independência feminina, a publicidade disseminou que a beleza não define o gênero e, poderá ser cultivada e mesmo reivindicada por ambos os sexos.

Explica que a beleza ilimitada desencadeou na valorização do mercado de beleza masculino, cirurgias estéticas para homens ficaram em evidência, salões de beleza se especializaram no atendimento a esse novo público e prover maior investimento nas novas tecnologias cosméticas específicas para os homens.

O conceito e as formas de beleza se estabelecem e se incorporam em homens e mulheres que pertencem a sociedade historicamente constituídas.

Cabe sublinhar que o ideal de cada sociedade nunca é único, sempre existe grupos que tentam afirmar as imagens alternativas e contestadoras, como no caso de hippies, punks, nerds[27] e etc. Isto é, a relação da pessoa com a beleza e com o corpo varia segundo sua inserção social.

Atualmente, apesar de existirem as imensas diferenças culturais entre os povos, à uma forte tendência à globalização das aparências não subtrai, evidentemente, as diferenças culturais e nacionais. E, as tradições de cada povo propiciam a diferenciação de modelos estéticos e das formas de conduta.

Os padrões de beleza[28] incorporam elementos de modelos muito antigos. E, assim, a cultura de nossos antepassados continua de certa forma viva entre nós, pois conservamos aspectos de sua cultura.

Enfim, a beleza é subjetiva e conceitual, onde cada um é responsável por seu estado físico e aparência. E, com passar dos tempos foram construídos diferentes discursos em torno da beleza que resultaram na delimitação de padrões estéticos a serem seguidos.

Ressalte-se que na contemporaneidade, o aumento de pesquisas na área, a evolução tecnológica dos aparelhos, avanço dos produtos cosméticos, aperfeiçoamento das práticas e técnicas estéticas decorrentes da busca da beleza ideal.

O padrão de beleza ideal é difundido com maior celeridade por conta da evolução das novas tecnologias de comunicação proporcionam à sociedade informação acessível a todos.

A mídia potencializa a difusão e a capitalização do culta a beleza padronizada, perfazendo o que chamamos de indústria da beleza. O culto obsessivo ao corpo perfeito sendo essencial para aceitação e reconhecimento social da pessoa, que quando não atingido pode acarretar em graves consequências do ser humano. Importante é notar que o conceito de beleza navegou de Vênus de Milo até Kate Moss. Permanece a beleza sendo fundamental[29] seja no corpo, na alma ou apenas nos olhos que a observa atentamente.

 

 

 

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[1] E, não são apenas os seres humanos que têm uma atração nata pela simetria. O zoólogo inglês John Swaldel, da Universidade de Bristol, provou que as fêmeas de alguns pássaros preferem acasalar com os machos que possuem padrões acentuadamente simétricos. Estudos semelhantes provam que cerca de quarenta espécies de animais provaram que, em 78% dos casos, a simetria tinha influência direta no sucesso do acasalamento ou da atração sexual entre os animais.

[2] "Se eu pudesse descrever a beleza dos teus olhos e enumerar teus atributos em épocas vindouras... diriam: o poeta mente! A Terra jamais foi acariciada por tal toque divino". William Shakespeare

[3] A Idade Média artística está presente no capítulo IV “A luz e a cor na Idade Média”. Eco nesse instante da obra faz a defesa do medievo vívido contra a ideia generalizante, antiquada e errônea de “idade das trevas”. Para isso o autor destaca a presença no medievo da técnica do uso da luz e das cores como estratégias para atingir o Belo. O pensamento estético da claritas faz toda a diferença entre o românico da Antiguidade Tardia e a presença do gótico medieval nas catedrais sob a liderança do abade Suger (séc. XII). As ornamentações, as cores da poesia e da mística revelam a subjetividade expressa da sociedade medieval. Assim, numa ótica de influencia huizinguiana, Eco apresenta essa sociedade medieval que possui “gosto pela cor que também se manifesta fora da arte, na vida e nos hábitos cotidianos, nas roupas, nos adornos, nas armas” (ECO, 2013, p.118).

[4] Além de arquiteto, Gaudí também foi um grande artesão. Em colaboração com artistas de sua época, ele projetou todos os elementos arquitetônicos que fariam parte dos espaços das suas obras: maçanetas e grades em ferro forjado, móveis, cerâmicas, esculturas, mosaicos e vitrais.

[5] A teoria da relatividade geral é uma teoria geométrica da gravitação criada por Albert Einstein. Ela consiste em um conjunto de hipóteses que generaliza a relatividade especial e a lei da gravitação universal de Newton, fornecendo uma descrição da gravidade como uma propriedade geométrica do espaço-tempo.

[6] Proporção áurea é uma constante real algébrica irracional utilizada na arquitetura, nas artes e no design gráfico. Ela é representada pela divisão de uma reta em dois segmentos (a e b), sendo que quando a soma desses segmentos é dividida pela parte mais longa, o resultado obtido é de aproximadamente 1,61803398875. O matemático italiano Leonardo Fibonacci descobriu uma sequência de números infinita, onde a divisão entre os termos consiste sempre na aproximação do número 1,6180 (o "número de ouro").

[7] O Homem Vitruviano é um desenho de Leonardo da Vinci que apresenta o corpo humano a partir das proporções ideais. Arquitetado por meio dos conceitos expostos na obra “De Architectura” do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio, a ilustração representa o ideal de beleza e a harmonia nas proporções.

Homem de Vitrúvio (ou Homem Vitruviano), obra do mestre renascentista Leonardo da Vinci. Com ele, Da Vinci se propôs a capturar, por meio da ciência e da arte - que para ele eram uma coisa só - a perfeição do corpo humano. Este desenho ilustra a tese filosófica segundo a qual “o homem é a medida de todas as coisas”, própria do Renascimento. Considerado como um símbolo da simetria básica do corpo humano e, por extensão, para o universo como um todo.

[8]  A história de sua descoberta em 1820 na ilha de Milo, então parte do Império Otomano, e a forma como perdeu os braços foram narradas pelas fontes primitivas em versões contraditórias que nunca puderam ser de todo esclarecidas, mas depois de sua aquisição pela França foi imediatamente exposta no Louvre, oficialmente como uma obra-prima da prestigiosa geração clássica e atribuída ao círculo de Praxíteles, tornando-se uma celebridade instantânea e um motivo de orgulho nacionalista. Mas logo se criou uma polêmica, pois segundo alguns eruditos havia evidências para se acreditar que de fato fora produzida no período helenístico, na época desprezado como uma fase decadente na tradição artística grega, e esta possibilidade não interessava politicamente ao governo francês. O debate se estendeu por muito tempo, mas mesmo assim seu valor estético não foi posto em séria dúvida, sendo elogiada em altos termos por muitos artistas e intelectuais e mesmo pelo público leigo. Foi copiada muitas vezes e divulgada em gravuras e outros meios de larga circulação ao longo de todo o século XIX. Como poucas obras da Antiguidade, a Vênus de Milo sobreviveu relativamente incólume à crítica romântica e modernista, vendo sua fama crescer continuamente. Tem sido objeto de muitos estudos especializados e adquiriu o status de ícone popular, reproduzidas vezes incontáveis como estatueta, em estampas, filmes, literatura, souvenirs turísticos e outros itens para o consumo de massa. É hoje uma das estátuas antigas mais conhecidas do mundo. Sua autoria e datação permanecem controversas, mas formou-se um consenso de que seja realmente uma obra helenística que, no entanto, recupera elementos clássicos, atribuída a Alexandre de Antioquia. Apesar de modernamente ser descrita como uma representação de Vênus, deusa da beleza e do amor, tampouco essa identificação é absolutamente segura.

[9] O quadro Les Demoiselles d'Avignon (1907), de Pablo Picasso, representa o rompimento com a estética clássica e a revolução da arte no início do século XX. Essa nova tendência se caracteriza pela. pintura de modelos em planos irregulares. mulher como temática central da obra.

[10]  David Hume foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia, que se tornou célebre pelo seu empirismo radical e ceticismo filosófico. Para filósofos como David Hume (1711-1776), por exemplo, a beleza não estaria nos objetos em si, mas estaria determinada ao gosto de cada um, sendo um juízo subjetivo. Seria da mesma forma com a arte, cuja noção a partir do século XVIII, se vincularia à noção de beleza (na Antiguidade grega eram esferas separadas).

[11] Para Platão, o belo está ligado a uma essência universal. O belo não depende de quem observa, pois está contido no próprio objeto. Para Hegel, a arte, o gosto e a noção do que é belo muda de acordo com o tempo. Portanto, a produção de uma obra de arte o a definição de algo como belo depende mais da cultura de uma determinada época.

[12] Foi um período de prosperidade material para a Inglaterra, devido à consolidação da indústria e à expansão do império colonial para a África e a Ásia. A arte recebeu influência de várias correntes artísticas e viveu-se um período de grande estabilidade

[13] A beleza saudável e vigorosa do mito ariano refletia-se na propaganda visual e na arte do 3º Reich por meio da ampliação da crença romântica de que o povo alemão (Volk) tinha uma ligação predestinada com a terra e que um certo padrão físico-social deveria ser mantido a fim de que se alcançasse finalmente a utopia de um mundo imune a toda ameaça degenerescente. No ambiente organicamente midiatizado da Alemanha nazista, o cultivo dessa percepção em torno da beleza da vida sustentava-se sobre um corpo populacional diametralmente oposto: aquele que se configurava de acordo com a feiura do genocídio e da eugenia. A imagem do homem ou da mulher capazes de realizar tudo ao mesmo tempo com eficiência e prazer, configura uma espécie de protótipo visual do ideal fascista de corpo/ego atuais, cuja demanda por disposição, proteção e força se comparam a de uma máquina inesgotável. Esse excesso de demandas, no entanto, desvela-se como um conjunto de condicionantes violentas e naturalizadas a que esse corpo deve se submeter em nome de sua idealidade estética, ou o que Brian Pronger (2002) chama de fascismo de corpo (body fascism).

[14] O posicionamento de Theodor Adorno sobre esta questão é tipicamente dialético. Esta figura não é apresentada sem um toque de altivez elitista: “os ingénuos da indústria cultural, ávidos das suas mercadorias, situam-se aquém da arte”. E, no entanto, sua falta de familiaridade é tida como lhes permitindo uma clareza que o frequentador regular da ópera, o patrono de museus ou o crítico literário não possuem. Eles são capazes de perceber a “inadequação [da arte] ao processo da vida social atual – mas não a falsidade deste – muito mais claramente do que aqueles que ainda se recordam do que era outrora uma obra de arte”. Aquele que aperta os olhos diante de uma obra de arte moderna e pergunta, “para que ela serve?”, tem, neste sentido, uma visão mais lúcida do estatuto contemporâneo da arte do que o crítico – em especial, de que, “o que diz respeito à arte deixou de ser evidente … até mesmo o seu direito à existência”.

[15] Segundo Kant, o belo resulta da concordância harmoniosa entre uma forma sensível imaginada para exprimir uma ideia, e um ideia concebida para ser expressa por uma forma. O belo será o que satisfaz o voo livre da imaginação, sem estar em desacordo com as leis da Verstand. Já os filósofos empiristas Locke e Hume relativizam a beleza, uma vez que ela não é uma qualidade das coisas, mas só o sentimento na mente de quem as contempla. Por isso, o julgamento de beleza depende tão somente da presença ou ausência de prazer em nossas mentes.

[16] Baumgarten criou o termo Estética – “ciência da Aisthesis”, isto é, do conhecimento sensível (o adjetivo grego Aisthetike [estético] e o substantivo Aisthesis [sensação]). Utilizou o termo em 1750 (título de um livro seu). Para ele, a percepção da arte é uma atividade intelectual fruto da sensitiva (um dos três tipos de alma, segundo Aristóteles, e própria dos animais – no homem, cumpre as funções irracionais [o desejo e as percepções sensíveis]). Por isso, o Belo não é algo claro, fruto exclusivo da alma racional. Por isso, a partir de Baumgarten, gradativamente ganhou espaço uma concepção relativa – melhor dizendo, subjetiva – da beleza (para a Tradição, Belo é o ente, independente da percepção individual). Isso porque já em sua Metafísica (§ 451), obra de 1739, Baumgarten definiu o gosto como a capacidade de julgar de acordo com os sentidos (ao invés do intelecto), juízo baseado em sentimentos (prazer ou dissabor). Uma Ciência da Estética seria, para ele, uma dedução de regras ou princípios da beleza artística (ou natural) a partir do “gosto” individual.

[17] Poderia crer-se que o senso comum estético completa os dois precedentes; no senso comum lógico e no senso comum moral, ora a Verstand ora a Vernunft legisla e determina a função das outras faculdades. A faculdade de sentir não legisla sobre objetos, não há, portanto, nela uma faculdade que seja legisladora.  Com efeito, o senso comum estético não representa um acordo objectivo das faculdades, mas uma feira harmoniosa subjetiva, onde a imaginação e a Verstand exercem espontaneamente, cada qual por sua conta.

[18] Não é de hoje que essa beleza antropocentrista existe, já na Grécia Antiga ocorria o culto ao corpo, com inúmeras obras valorizando um padrão estético que aquele período Clássico exigia. A diferença é que, atualmente, com a terceira Revolução Industrial, a mídia e o capitalismo exercem influência sobre as compras dos consumidores, por meio da propaganda, que são pressionados a comprarem produtos caros, mesmo que não os satisfaçam, apenas com o intuito de atender o fetichismo marxista em busca do reconhecimento de poder aquisitivo pelo grupo social, agregando um status de posse e de riqueza, e uma atribuição de estarem de acordo com “a moda", com a mídia, que dita o que é ideal.

[19] Segundo Le Breton (2009), o corpo é a instância pela qual a relação do sujeito com o mundo é construída. É por meio dele que percebemos o mundo, expressamos nossos sentimentos e interagimos com os outros. Na visão de Le Breton (2009), do corpo nascem e se propagam os significados pertencentes a existência individual e coletiva. O corpo é quem permite a relação do homem com o ambiente, “ele é o eixo da relação com o mundo, o lugar e o tempo nos quais a existência toma forma fisionomia singular de um ator”.

[20] Barthes descreve o mito como uma realidade sensorial completa, rica e suficiente em si mesma; um axioma que define saberes, memórias e valores. É uma reserva instantânea de significado vívido, espontâneo, inocente, indiscutível, porém afastado demais para ser testado nos fatos.

[21] Concluímos que conceitos como beleza, feiura e estereótipos de padrões corporais são construídos socialmente. Assim como discursos preconceituosos também são criados em sociedade e nela difundidos. Quando falamos de gordofobia, apesar do preconceito ser muito presente no cotidiano, a luta só tem ganhado espaço de discussão e visibilidade nos meios midiáticos nos últimos tempos.

[22] O próprio ser físico, sensível, só são belos na medida que é formado por uma ideia que ordena e combina suas múltiplas partes. Em outras palavras, você só terá a aparência bela, para esses filósofos, se o seu cérebro estiver em mais atividade que seus músculos. Para um grupo de pensadores denominado “escolásticos”, a arte é uma virtude do intelecto prático, um hábito de ordem intelectual que consiste em imprimir ideias a uma determinada matéria, ainda que, para Kant – aquele filósofo do início do texto –, belo é o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito. Contudo, a satisfação para ele só é estética quando gratuita e desligada de qualquer interesse ou objetivo.

[23] O julgamento estético tem uma base universal comum à natureza humana. A estética é subjetiva, mas quando se torna universal dá origem a uma certa objetividade baseada em leis naturais.

[24] A estética é conhecida também por ser a ciência do belo, a filosofia da arte que se dedica a estudar aquilo que é belo nas manifestações da natureza e também nas manifestações artísticas. A estética é uma área da filosofia, é, portanto, um ramo filosófico que se dedica a estudar e investigar a essência da beleza.

[25] A filosofia medieval entendia, de um modo bastante platônico, a beleza como um traço do Ser. De qualquer modo, tudo o que os pensadores medievais discorreram sobre o tema indica que a beleza era passível de ser entendida racionalmente, que ela tem fundamentos racionais.

[26] Disciplina que estuda a manipulação do átomo ou da molécula e pretende aplicar a tecnologia em mecanismos com grandezas de nanómetro, ou seja, da ordem dos bilionésimos do metro e preconiza a construção de máquinas de dimensões reduzidíssimas. Origem etimológica: nano- + tecnologia. A nanotecnologia abre a possibilidade de manipular átomos e moléculas e já tem sido largamente empregada na fabricação de semicondutores e circuitos integrados (chips) – como computadores e telefones celulares -, e na confecção de dispositivos que incorporam a combinação de porções orgânicas e inorgânicas.

[27]  Nerds – a terminologia surgiu em 1951 e é utilizada para configurar um grupo de pessoas que gostam de leitura, ciências, quadrinhos, séries, tecnologia, são altamente intelectuais, porém têm poucas habilidades sociais. A palavra hippie foi inventada nos anos sessenta. Referia-se às pessoas da contracultura daquele período. Usavam drogas psicodélicas, os homens usavam cabelos e barbas compridos, tocavam e ouviam rock and roll. Praticavam amor livre e alguns deles se mudavam para assentamentos comunais. O apogeu dos hippies foi de 1967 a 1972, depois o movimento quase desapareceu. "O estilo punk e o universo musical do Punk Rock talvez sejam uma das manifestações musicais mais carregadas de ideologias que já existiu. Dos jeans rasgados aos acordes rápidos e letras ácidas, o mundo punk tem sempre uma mensagem a ser passada sobre suas visões políticas do mundo. Ainda que tenha perdido muito sua força influente do passado, a ideologia e o estilo ainda persistem e resistem em comunidades que incorporam a luta ideológica pregada pela sua visão de mundo. O punk teve seu início como uma forma de expressão artística de uma visão contracultural do mundo moderno. A ideia tomou forma, inicialmente, no início dos anos 70, nos Estados Unidos, com bandas formadas por jovens de classe média que rejeitavam e criticavam a mentalidade e o estilo de vida da classe que faziam parte. A palavra “punk” é uma expressão da língua inglesa que é usada para classificar um indivíduo ou grupo urbano antissocial que se desviava dos padrões normativos de conduta da época, visto como a parte inútil de uma sociedade. "

 

[28] A visão do corpo no Ocidente e no Oriente tem matizes diferentes. No Ocidente procura-se saber mais sobre o aspecto “exterior” do mesmo, mas no Oriente, em particular na Índia, existe uma preocupação de estudá-lo integrado com uma mente saudável e positiva (aspecto “interior” do corpo).

[29] A frase do imortal Vinicius de Moraes, cunhada em tempos politicamente nada corretos, encontra campo fértil no esporte, em que a plasticidade dos gestos sempre foi bem explorada pelas aguçadas lentes dos fotógrafos e cinegrafistas. "Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental... "

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/06/2024
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