Mal-estar na civilização
Essa obra de Sigmund Freud foi escrita depois da elaboração da segundo tópica que permitiu dissipar as ambiguidades e relatar sobre as dificuldades nos relacionamentos humanos. A busca da felicidade e do prazer diante dos paradoxos da satisfação nos conduz a uma reflexão ética. Realmente vige um forte antagonismo entre as exigências da pulsão e as restrições impostas pela cultura.
Tal debate atravessou toda teoria de Freud em 1930 e, foi retomada pelo prisma da pulsão de morte. Enfim, diante a tendência da depreciação universal do amor, há intrínseco na satisfação uma fonte de desprazer e sofrimento. E, Freud retomou ao debate quando escreveu "Além do princípio do prazer" em 1920 e apresentou suas teses sobre a pobre condição humana.
Aliás, a condição humana atravessa todo o diálogo travado entre Freud e Romain Rolland sobre a origem da religiosidade e sua relação com o "sentimento oceânico". Enfim, o nome de Roland sempre será uma lembrança feliz por acenar com lindas ilusões, como a de que o amor se estende a toda humanidade.
O escrito de Freud não visa trazer conforto ao leitor, mas trazer a análise do sujeito e reflexão sobre a sociedade. O mal-estar de Freud advoga em prol de alguma unidade, mas não o faz por sentimentalismo ou idealismo, mas, por motivos econômicos, pois, frente às tendências destrutivas e ao modo como se estabelecem os laços entre os humanos, devemos considerar o esforço de Eros necessário à preservação da humanidade. E, Tanatos, que sem nos advertir sobre a contrapartida que acompanha a unidade estabelecida pelo amor: o incremento da agressividade inerente à dimensão dual e a exacerbação da severidade do superego.
O Homo homini lupus que nos mostra a agressividade natural do humano para então concluir que a civilização é um mal necessário.