Salve São Jorge, o santo guerreiro.
Resumo: São Jorge em sua história vai de santo "cassado" ao guerreiro que vive na Lua. O próprio Vaticano indica que são inúmeras as narrações fantasiosas que nasceram em torno do santo. E, um dos episódios mais conhecidos é o do dragão e a jovem, salva pelo santo que remonta ao tempo das Cruzadas. Narra-se que na cidade de Selém, Líbia, havia um grande pântano, onde vivia um terrível dragão. Para aplacá-lo, os habitantes ofereciam-lhe dois cabritos por dia e, vez por outra, um cabrito e um jovem tirado à sorte. Certa vez, a sorte coube à filha do rei. Enquanto a princesa se dirigia ao pântano, Jorge passou por ali e matou o dragão com a sua espada. Este seu gesto tornou-se símbolo da fé que triunfa sobre o mal.
Palavras-chave: São Jorge. Santo Guerreiro. Teologia. Filosofia. História.
O dia vinte e três de abril é comemorado o Dia de São Jorge, é um feriado no município do Rio de Janeiro, além de ser data relevante no calendário católico. O santo é padroeiro da Inglaterra, além de ser festejado em Espanha, particularmente, na Catalunha, em Portugal, no Canadá, na Lituânia, na Rússia, Bulgária entre outros países.
Não há consenso, porém, a respeito da maneira como teria se tornado padroeiro da Inglaterra. Seu nome era conhecido pelos ingleses e irlandeses muito antes da conquista normanda, o que leva a crer que os soldados que retornavam das cruzadas influíram bastante na disseminação de sua popularidade.
Acredita-se que o santo tenha sido escolhido o padroeiro do reino quando o rei Eduardo III fundou a Ordem da Jarreteira, também conhecida como Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348. De acordo com a história da Ordem da Jarreteira, o Rei Artur, no século VI, colocou a imagem de São Jorge em suas bandeiras. Em 1415, a data de sua comemoração tornou-se um dos feriados mais importantes do país.
Hoje em dia na Inglaterra, todavia, a festa de São Jorge comemorada todo dia 23 de abril tem tido menos popularidade ao longo das últimas décadas.
Algumas rádios locais, como a BBC já chegaram a promover pesquisas de opinião perguntando qual seria, de acordo com a opinião pública, o santo padroeiro dos ingleses, e eis que o eleito foi Santo Albano.
Muitos fatores contribuíram a isso. Primeiramente por ter sido substituído, segundo bula do Papa Leão XIII de 2 de junho de 1893, por São Pedro como padroeiro da Inglaterra — recomendação que perdura até hoje.
Não é possível confirmar se São Jorge existiu realmente ou não. O que aliás, é aplicável a muitos santos da Antiguidade Cristã. Não existem muitos registros históricos sobre a figura de São Jorge e a tradição menciona o seguinte: Jorge teria nascido por volta do ano de 280 d.C., na Capadócia, atual Turquia, e se mudou, mais tarde para a região da Palestina.
Quanto sua provável existência, há um documento denominado "Passio Georgii"(em português, A Paixão de Jorge), reconhecido por um decreto da Igreja Católica datado de 496. Tal qual tantos outros santos dos primeiros séculos cristãos, é bem difícil reconstituir sua autêntica biografia.
O Vaticano atesta que "entre os documentos mais antigos" que indicam "a existência de São Jorge" está uma epígrafe grega do ano de 368 que menciona “casa ou igreja dos santos e triunfantes mártires, Jorge e companheiros.
Ao longo de sua vida, se alistou no Exército do Império Romano. Jorge que era cristão, foi morto em 303 d.C., porque teria se negado a matar e perseguir cristãos, o que era uma ordem direta do Imperador Diocleciano. E, por conta da desobediência foi decapitado em 23 de abril.
O local de sua morte também é incerto. Algumas fontes mencionam que fora na cidade de Lida, em Israel, onde os supostos restos mortais repousam até hoje. Porém, outras fontes apontaram que fora na cidade Nicomédia, na Turquia.
Nos séculos VI e VII existiram padres da Igreja mencionando São Jorge. Com o fim da perseguição aos cristãos e depois da cristianização do Império Romano em 380 a.C., a memória dos cristãos que deram sua vida, o transformou em mártires.
Como, então, um mártir se converteu em um guerreiro montado em um cavalo, empunhando uma lança diante de um dragão cuspindo fogo? A resposta está na Espanha, a partir do século VIII.
Foi com as conquistas dos cristãos do norte de Espanha sobre as áreas ocupadas pelos reinos árabes, os santos associados à cultura militar tiveram grande valorização, entre estes, São Jorge.
Quando ele passou a ser visto como protetor dos cristãos contra os mouros, como estivesse aparecido o céu para acompanhar os cristãos em suas vitórias. Sublinhe-se que as cruzadas ainda deram maior ênfase à mitologia de São Jorge.
E, por volta de 1096, os soldados cristãos rumaram a Jerusalém com o fito de conquistar a Terra Santa. E, com as primeiras cruzadas, a fama de São Jorge se expandiu ao regresso dos soldados à Europa.
Na mesma época, as capelas em nome do santo que teria protegido os cristãos dos muçulmanos se levantaram por toda Europa e um dos símbolos do santo, a cruz com as quatro pontas iguais em vermelho, se disseminou por brasões e bandeiras. Já a partir de 1290 o santo guerreiro virou lenda.
E, um escriba dominicano conhecido como Jacopo de Varazze compilou histórias dos primeiros santos em um livro intitulado como "Lenda Dourada". E, lá estava São Jorge, onde a história do soldado turco ganhou ares muito diferentes.
No capítulo dedicado a São Jorge há a história de uma cidade que sofre com um dragão que queimava casas e contaminava a água. Para acalmar o monstro, jovens virgens eram entregues para sacrifício.
“Quando foi a vez da filha do rei, São Jorge teria aparecido montado em seu cavalo. Após vencer o dragão, o santo teria cortado a cabeça do animal. Toda a cidade se converteu ao cristianismo depois do episódio”.
São Jorge é um dos santos com maior devoção no Brasil, sendo notório sua presença dele em letras de música, sambas-enredo e, em outros elementos culturais. E, para as religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda também veneram São Jorge, com o nome de Ogum.
O sincretismo religioso é praticamente uma atualização da fé do povo conquistado. Quando os portugueses vieram para o Brasil e impuseram a fé católica, os escravos negros adaptaram à fé deles. Então, São Jorge se tornou Ogum, um orixá guerreiro.
São Jorge é venerado como santo pelas Igrejas Católica, Ortodoxa, Anglicana e, também pelos cultos afro-brasileiros. É protetor dos oprimidos e das donzelas. Sua imagem é representada como um soldado montado em cavalo branco, armado de uma lança ferindo um dragão.
Era dotado de grande habilidade em manejar armas, notadamente, a espada, e se tornou capitão do Exército romano. E, depois recebeu do Imperador o título nobre de Conde da Capadócia e, os vinte e três anos passou a residir na corte imperial em Nicomédia (atual Iomide, na Turquia).
Há registros que quando sua mãe faleceu, recebera vultosa herança, mas doou tudo para os pobres, causando uma grande surpresa para a corte imperial ainda não sabia de sua fé cristã.
Em 303, Diocleciano publicou um edito que mandava prender os soldados romanos cristãos e que todos os outros deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos.
Não querendo perder um de seus melhores tribunos, o imperador tentou convencer Jorge a mudar de opinião, oferecendo-lhe dinheiro, terras e escravos, porém o tribuno manteve-se fiel ao cristianismo.
Desde então, Jorge passou a ser martirizado e logo em seguida era levado diante do imperador, que lhe interrogava se ele renegaria a Jesus para adorar os deuses romanos, mas Jorge sempre confirmava sua fé em Jesus.
Alguns historiadores dizem que Jorge foi torturado durante sete anos. Sem conseguir seu intento, Diocleciano ordenou que Jorge fosse levado para a degola.
Anos mais tarde após a morte de São Jorge, o primeiro imperador romano cristão, Constantino I, mandou construir no local de seu túmulo, uma igreja com um suntuoso oratório para a devoção de São Jorge. Sua fama de defensor dos cristãos aos poucos se espalhou por todo o Oriente.
Por volta do século V, em homenagem a São Jorge, cinco igrejas já haviam sido construídas em Constantinopla, que naquela época era a capital do Império romano no Oriente. Mais tarde, foram construídas igrejas no Egito, na Armênia e em Bizâncio. Em 494, São Jorge foi canonizado pelo papa Gelásio I.
Posteriormente, quando da reforma do calendário litúrgico realizada pelo Papa Paulo VI em 9 de maio de 1969, a observância do dia de São Jorge tornou-se facultativa, e não mais em caráter universal.
De fato, a reforma retirou do calendário os santos dos quais não havia documentação histórica, mas apenas relatos tradicionais, porém tal expurgo não atingiu o santo da Capadócia. Cogitava-se, naqueles tempos, em "cassação de santos". No entanto, o fato da festividade de São Jorge ter se tornado opcional não quer dizer que não seja reconhecido como santo.
Frise-se a reabilitação do santo como figura de primeira instância, assim como os arcanjos, lembrando a figura do próprio Jesus Cristo, pelo Papa João Paulo II em 2000, o que conferiu nova relevância a São Jorge.
Com o passar dos anos, São Jorge foi escolhido para padroeiro e então é venerado em diversas partes do mundo, não só pela Igreja Católica, como também pela Anglicana e pela Igreja Ortodoxa.
Entre outras igrejas que veneram São Jorge destacam-se: a Catedral de São Jorge, em Istambul, a Capela de São Jorge em Atenas, a Igreja de São Jorge, em Moscou e a Capela de São Jorge na Inglaterra, o principal local de culto religioso do Castelo de Windsor.
A Igreja de São Jorge, em São Jorge, na Ilha da Madeira, em Portugal, possui relíquias do santo que foram recebidas pelo bispo do Funchal, D. Nuno Brás, por ocasião das comemorações dos 504 (quinhentos e quatro) anos de sua fundação, em 2019.
Este santo é o padroeiro extraoficialmente, da cidade do Rio de Janeiro (título oficialmente atribuído a São Sebastião) e da cidade de São Jorge dos Ilhéus, além de ser padroeiro dos escoteiros, e da Cavalaria do Exército Brasileiro. Em maio de 2019, foi oficializado como padroeiro do Estado do Rio de Janeiro, ao lado de São Sebastião.
A Lenda de São Jorge e o dragão
De acordo com uma lenda, o soldado Jorge estava acampado com sua legião romana em um local próximo a Salone, na Líbia, no Norte da África, local onde vivia um enorme dragão com azas que devorava as pessoas.
Diziam que o hálito do animal era tão venenoso que qualquer um que se aproximasse dele poderia morrer envenenado. Com o intuito de manter o animal longe da cidade, lhe ofereciam ovelhas como alimento.
Os habitantes da cidade, sob às ordens do rei, davam seus filhos para serem devorados pelo dragão, até que chegou a hora de Sabra, a filha do rei de quatorze anos, ser sacrificada. Sabra deixou as muralhas da cidade e ficou esperando seu destino. Ao saber da história, Jorge montou em seu cavalo branco decidido a dar um fim a tudo aquilo.
Porém, antes de partir, exigiu uma promessa do rei: se ele trouxesse sua filha de volta, o rei e todos os moradores do reino seriam batizados e se converteriam ao cristianismo. O rei deu sua palavra e Jorge seguiu para lutar com o dragão.
O dragão, ao ver Jorge, sai de sua caverna, rosnando tão alto quanto o som de trovões. Mas Jorge não sente medo e enterra sua lança na garganta do monstro, matando-o.
Como o rei do Marrocos e do Egito não queria ver sua filha casada com um cristão, envia São Jorge para a Pérsia e ordena que seus homens o matem. Jorge se livra do perigo e leva Sabra para a Inglaterra, onde se casa e vive feliz com ela até o dia de sua morte, na cidade de Coventry.
De acordo com a outra versão, Jorge acampou com sua armada romana próximo a Salone, na Líbia. Lá existia um gigantesco crocodilo alado que estava devorando os habitantes da cidade, que buscaram refúgio nas muralhas desta.
Ninguém podia entrar ou sair da cidade, pois o enorme crocodilo alado se posicionava em frente a estas. O hálito da criatura era tão venenoso que pessoas próximas podiam morrer envenenadas.
Com o intuito de manter a besta longe da cidade, a cada dia ovelhas eram oferecidas à fera até estas terminarem e logo crianças passaram a ser sacrificadas.
O sacrifício caiu então sobre a filha do rei, Sabra, uma menina de catorze anos. Vestida como se fosse para o seu próprio casamento, a menina deixou a muralha da cidade e ficou à espera da criatura. Jorge, o tribuno, ao ficar sabendo da história, decidiu pôr fim ao episódio, montou em seu cavalo branco e foi até o reino resgatá-la, mas antes fez o rei jurar que se a trouxesse de volta, ele e todos os seus súditos se converteriam ao cristianismo.
Ao ficar pronto para lutar novamente, Jorge acerta a cabeça do dragão com sua poderosa espada Ascalon. O dragão derrama então o veneno sobre ele, dividindo sua armadura em dois. Uma vez mais, Jorge busca a proteção da laranjeira e em seguida, crava sua espada sob a asa do dragão, onde não havia escamas, de modo que a besta cai muito ferida aos seus pés.
Jorge amarra uma corda no pescoço da fera e a arrasta para a cidade, trazendo a princesa consigo. A princesa, conduzindo o dragão como um cordeiro, volta para a segurança das muralhas da cidade.
Lá, Jorge corta a cabeça da fera na frente de todos e as pessoas de toda cidade se tornam cristãs. A vitória de São Jorge sobre o dragão é simbolizada como a vitória sobre as hostes islâmicas na época das Cruzadas. Ricardo Coração de Leão o invocava como protetor dos soldados
Após tal juramento, Jorge partiu atrás da princesa e do "dragão". Ao encontrar a fera, Jorge a atinge com sua lança, mas esta se despedaça ao ir de encontro à pele do monstro e, com o impacto, São Jorge cai de seu cavalo.
Ao cair, ele rola o seu corpo, até uma árvore de laranjeira, onde fica protegido por ela do veneno do dragão até recuperar suas forças.
Depois de muito batalha, Jorge acertou a cabeça do dragão com sua espada e depois cravou-a debaixo de sua asa. Assim, o dragão foi ferido mortalmente e caiu sem vida.
O soldado amarrou a fera e a levou arrastada para a cidade. Levou também a jovem salva. Com a promessa cumprida, todas as pessoas da cidade se tornaram cristãos.
O dragão (o demónio) simbolizaria a idolatria destruída com as armas da Fé. Já a donzela que o santo defendeu representaria a província da qual ele extirpou as heresias.
Cumpre alertar: para não deixar dúvidas, São Jorge foi um dos tantos santos enaltecidos pelo papa João Paulo II (1920-2005) nas celebrações do Jubileu em 2000 — e isso foi visto por observadores como uma espécie de reabilitação oficial da figura.
São Jorge é reconhecido como o santo que nos inspira e ajuda na luta contra os dragões de cada dia. É padroeiro de muitas paróquias e comunidades por esse Brasil, padroeiro dos corintianos, do estado do Rio de Janeiro e da Inglaterra", cita padre Lima.
E, enaltecendo sua apropriação pelas religiões de matriz africana, ele pede "que São Jorge nos ajude a vencer os dragões da intolerância religiosa, do racismo e da violência.