Enxergar-se.
Olho para mim, nem me enxergo.
Não há espelho nem reflexo
que me revele ou desnude.
Tenho a mania de pensar.
Repensar e sair de mim
e passear por umbrais desconhecidos.
O oxigênio que respiro está poluído.
As palavras que pronuncio está infectada
de fonética e ortoepia peculiar.
Meu modo de existir exala uma fragrância.
Ou um flagrante delito.
De existir impunemente.
Essa água sorvia por minha boca
não sacia minha sede.
Nunca hei de deixar de ser sedenta.
Por respostas, razões ou simples misericórdia.
As sensações pesam sobre os ombros como
se fossem ombreiras
Há um luto reverencial ao entardecer,
os raios sangram até morrer.
e, o horizonte empalidece até mergulhar
no breu da noite.
Ou será no silêncio da alma?
Julgo-me diariamente diante
do tribunal da consciência
que vive a me acusar e deferir culpas.
Condenada, arrasto os grilhões da existência.
Vivo a catar os cacos de coerência.
Que como qualquer mosaico é
plural, diverso e disperso.
Há uma demência poética
em querer enxergar-se...