Dar à luz é, em verdade, um procedimento longo e doloroso. E, pode ser até moratl.A OMS estima que oitocentas e trinta mulheres todos os dias devido as complicações durante a gravidez e o parte morrem. E, o referido número corresponde a 44% menor do que foi registrado em 1990, segundo a OMS.
Destaque-se, que entre os mamíferos é raro que as mães paguem preço tão caro para ter filhos. Os cientistas começaram a estudar o parto humano em meados do século XX e, logo construíram teoria que parece explicar o acontecido.
Na cadeia evolutiva os Hominini, uma tribo de primatas que faz parte da família Hominidae. E, os fósseis do Hominini mais antigos contam com sete milhões de anos e revelam animais com raros traços em comum conosco, exceto um: andavam eretos e sobre duas patas. E, para tanto, o esqueleto do Hominini teve que ser esticado e assim galgou nova configuração, o que afetou a sua pélvis.
Aliás, na maioria dos primatas, o canal vaginal, destiando ao nascimento dos filhores, é relativamente reto. E, no hominini se tornou diferente, pois seu quadril ficou mais estreito e o formato da vagina foi distorcido e tornou-se um cilindro que varia de largura e forma ao longo de sua extensão. Assim, os bebês Hominini devem ter tido que se contorcer e virar para passar pela vagina e nascer. E isso tornou o nascimento bem mais difícil que antes. Mas, as coisas ainda iriam piorar. Cerca de dois milhões de anos atrás nossos ancestrais Hominini começaram a mudar novamente.
Eles perderam as características dos primatas como o corpo pequeno, os braços longos e o cérebro pequeno.
Em compensação, ganharam traços mais humanos: ficaram mais altos, com braços mais curtos e cérebros maiores. Esta última característica foi especialmente ruim para as fêmeas Hominini.
As fêmeas tinham que ter a pélvis estreita, com a vagina comprimida, para poderem andar bem sobre as duas pernas. Por sua vez, os fetos estavam desenvolvendo cabeças maiores e foi ficando cada vez mais difícil para os filhotes passar por pélvis tão estreitas. O nascimento tornou-se doloroso e potencialmente mortal - e continua assim até os nossos dias.
Foi em 1960 que o antropólogo norte-americano Sherwood Washburn deu a esta ideia de nome de dilema obstétrico. E, alguns cientistas, entre eles Wells, não estavam satisfeitos com a explicação e começaram então a questionar o dilema obstétrico. Eles acreditam que a teoria de Washburn é muito simplista e que muitos outros fatores também contribuíram para o problema do parto humano.
Holly Dunsworth, da Universidade Rhode Island, ouviu falar do dilema obstétrico quando ainda era estudante de graduação. "Achava muito interessante e queria encontrar evidências para comprovar o dilema obstétrico", diz. "Mas logo tudo começou a mudar". "Quando escreveu seu artigo, ele disse que o dilema obstétrico foi resolvido com as fêmeas dando à luz num estágio relativamente inicial do desenvolvimento dos bebês", diz Wells.
Voltemos então ao momento em que os cérebros humanos começaram a ficar maiores, dois milhões de anos atrás. Washburn sugeriu que os humanos encontraram uma solução para o dilema: reduzir o tempo de gravidez.
Assim, os bebês humanos foram forçados a vir ao mundo antes do que realmente deveriam, para assim continuarem sendo menores e com cérebros pequenos. A explicação de Washburn parece lógica. Basta segurar nos braços um recém-nascido para verificar como ele é frágil e pouco desenvolvido. A visão científica dominante é de que outros primatas, que mantiveram o período maior de gestação, dão à luz filhotes mais bem desenvolvidos.
Mas isso não é verdade, diz Dunsworth. "Temos bebês maiores e gestações mais longas do que se imagina".
A gestação humana é longa. Dura entre 38 (trinta e oito) e 40 (quarenta) semanas, enquanto a do chimpanzé tem 32 semanas e gorilas e orangotangos dão à luz depois de 37 (trinta e sete) semanas. A gravidez humana é 37 (trinta e sete) dias mais longa que a de um primata do nosso tamanho. O mesmo vale para o tamanho do cérebro. As mulheres dão à luz bebês com cérebros maiores do que o de um primata com a mesma massa corporal. Isso significa que um ponto central do dilema obstétrico de Washburn está incorreto. Há ainda outros problemas em relação às ideias de Washburn.
A base do dilema obstétrico afirma que o tamanho e o formato da pélvis humana - e da pélvis feminina especialmente - são muito afetados pelo nosso hábito de caminhar eretos.
Em 2015, Anna Warrener e seus colegas da Universidade Harvard questionaram esta hipótese. A pesquisadora acha que as pessoas se preocupam demais com a relação entre o tamanho da cabeça do bebê e a largura da vagina. Ela diz que a pélvis simplesmente evoluiu para ter o tamanho adequado.
Teoricamente, a evolução poderia ter feito a pélvis das mulheres maior - mas isso não aconteceu. Kurki concorda. "O canal vaginal é grande o bastante para a passagem do feto", diz. É verdade. Mas vejamos os números de mortes de mães: 830 (oitocentas e trinta) por dia. Mesmo entre mulheres que não morrem durante o parto, alguns estudos dizem que o processo causa danos que mudam a vida delas em 40% dos casos. O preço que as mulheres pagam pela maternidade parece incrivelmente alto.
Em 2012, Wells e sua equipe analisaram o nascimento na Pré-História e chegaram a uma conclusão surpreendente: na maior parte da evolução humana, o parto foi muito mais fácil.
Mas estudar o nascimento na Pré-História é difícil.
A pélvis do Hominini raramente é preservada como fóssil e os crânios de recém-nascidos menos ainda.
Mas as evidências encontradas indicam que algumas espécies humanas, como o Homo erectus e alguns Neandertais, viveram momentos tranquilos na hora de dar à luz.
Na verdade, Wells e seus colegas suspeitam que o nascimento tenha sido um dos menores problemas da nossa espécie - pelo menos no começo.
Existem muito poucos esqueletos de bebês entre os restos humanos dos chamados grupos caçadores-coletores, o que pode indicar que a mortalidade entre seus recém-nascidos era relativamente pequena. Esta situação mudou alguns milhares de anos atrás. As pessoas se tornaram agricultoras e os esqueletos de recém-nascidos tornaram-se bem mais comuns.
Por exemplo, em 2015 Barbara Fischer, do Instituto Konrad Lorenz de Pesquisas em Evolução e Conhecimento de Klosterneuburg, na Áustria, e Philipp Mitteroecker da Universidade de Viena, também na Áustria, voltaram a analisar a pelvis feminina.
Eles acharam que a hipótese do EGG de Dunsworth - embora seja atraente - na verdade seria complementar às ideias de Washburn em vez de desmenti-las totalmente. Dunsworth concorda: ela acredita que a evolução do nascimento moderno inclui muitos fatores. Fischer e Mitteroecker investigaram se há alguma correlação entre o tamanho da cabeça feminina e o da pélvis.
Como o tamanho da cabeça é hereditário, mulheres com cabeças maiores naturalmente teriam a pélvis mais larga e mais facilidade no parto.
A análise de 99(noventa e nove) esqueletos indicou que esta relação realmente existe. Eles concluíram então que o tamanho da cabeça da mulher e as dimensões da sua pélvis devem ter alguma ligação em termos genéticos.
"Isto não significa que o problema (do parto) foi resolvido," diz Fischer. Mas seria ainda pior se não houvesse relação entre o tamanho da cabeça e a largura da pélvis.
E ainda há outra complicação: o corpo das mulheres muda à medida em que elas vão envelhecendo.
Em maio de 2016, um estudo de Marcia Ponce de León e Christoph Zollikofer da Universidade de Zurique, na Suíça, examinou dados pélvicos de 275 (duzentos e setenta e cinco) pessoas - homens e mulheres - de todas as idades.
O estudo sugere que a pélvis feminina apresenta um formato mais propício ao parto entre os 19 (dezenove) e 26 (vinte e seis) anos - quando a mulher está no auge da fertilidade.
Os cientistas sugerem que estas mudanças tornam o parto um pouco mais fácil. A teoria foi batizada de "dilema obstétrico do desenvolvimento" (DOD). Por volta dos 40 (quarenta) anos, a pélvis muda gradualmente de forma para ficar pronta para a menopausa. Até que ponto o nascimento ainda é um processo que está evoluindo e mudando? A ciência, a medicina e tantos ramos de saber correlatos tentam responder tal enigma.