Hesitação.
Nunca fui de hesitar em falar alguma coisa... Sofro intimamente de um mal, pois falo imediatamente o que me vem a cabeça. Mas, ultimamente, reflito antes... Então passa o script na minha mente, e até ir para fonética final, vou torneando as expressões como se fosse algo artesanal. Por vezes, prefiro mesmo o silêncio... o barulho do vento, a desconcertante ruptura durante o discurso, como se fosse uma pausa, mas em verdade, é apenas decepção. Vale a pena falar? De que adiantará... a medida em que envelhecemos, nos curvamos diante do que seja absolutamente imutável... não é apenas questão de genética, biologia, história ou geografia... as coisas entranham de tal forma que se transformam em monumentos rotundos da realidade cruel.
Nunca fui de hesitar em falar alguma coisa. Mas, diante da cena de uma criança pequena ser agredida aos ponta-pés, fiquei estarrecida... Como se pode calar diante disso? Então, intervi.. e, o adulto me olhava iracundo e xingou-me... eu absorta pelos hematomas frescos da criança...
Gritei e comecei a pedir socorro... surgiram mais pessoas, vizinhos, conhecidos e, até um ex-aluno. Que furioso perguntou ao pai da criança, como vc pode fazer isso? E, ele com ar blasè respondeu, estava dando um corretivo... Apanhei assim de meu pai... de meu avô... E, aí, me ocorreu que a violência segue uma história... maldita, silenciosa e cruel. Como tanto tempo, tantas feridas e traumas passaram invisíveis... aos olhos do mundo... Padecemos de nossa própria cegueira... E, o silêncio, senhores, pode até servir para fins poéticos e líricos, mas nunca diante de uma violência. Não se cale. Não se resigne. Não aceite.