"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


Um iceberg é uma massa de gelo que flutua nos mares polares depois de se ter desprendido de uma geleira". Normalmente, só vemos na superfície apenas uma pequena porção de seu todo, pois a maior parte de um iceberg resta submersa, de modo que é difícil mensurar seu real tamanho ou dimensão. Daí é que vem a popular expressão que diz: "isso é apenas a ponta do iceberg". Ernest Hemingway criou a teoria do iceberg. A dignidade do movimento do iceberg é que somente um oitavo de sua grandeza brilha ao sol: há sete oitavos submersos, para cada parte que aparece. O que você conhece, pode ser eliminado, e a parte que não aparece só robustece o iceberg? Hemingway quis dizer com isso que uma boa obra de ficção, assim como a vida real, apresenta apenas uma camada superficial de história. O conteúdo mais rico e valioso está no que ele chamou de "sete oitavos submersos". Em outras palavras, no que não foi dito ou escrito. Dessa forma, cabe ao leitor completar as lacunas e interpretar os finais que ficaram em aberto. E, cabe ao escritor o desafio de conduzir a narrativa para que isso aconteça. Aliás, sobre o trecho "o que você conhece, pode ser eliminado", Hemingway defendia que o escritor precisa ter total conhecimento daquilo que foi omitido. Aquilo que não foi revelado, de alguma forma identifica uma realidade ou filosofia. 

Hemingway definiu esse modo de narrar forjando a metáfora do iceberg. Em entrevista em um café de Madri, em maio de 1954, ele disse: “Se é que serve para alguma coisa, escrevo baseado no princípio do iceberg. A dignidade do movimento do iceberg é que somente um oitavo de sua grandeza brilha ao sol: há sete oitavos submersos, para cada parte que aparece. O que você conhece, pode ser eliminado, e a parte que não aparece só robustece o iceberg.”

Ao ser agraciado com o Nobel de Literatura, Hemingway enviou um curto agradecimento de sete parágrafos. Eis o parágrafo no qual sintetiza sua visão da literatura e do escritor, sua impetuosidade como renovador, seu elogio à solidão – aquela que o faz estar isolado ao criar o novo e aquela que o distancia de seus concidadãos:

        "Escrever é, na melhor das hipóteses, uma vida solitária. As organizações de escritores aliviam a solidão do escritor, mas duvido que melhorem a sua produção. Sua estatura pública cresce à medida que se despoja de sua solidão, e muitas vezes sua obra se deteriora. Porque ele a constrói sozinho, e se for um escritor bom precisa enfrentar a eternidade, ou a sua ausência, a cada dia. Para um verdadeiro escritor, cada livro deve ser um novo começo, onde ele torna a tentar alcançar alguma coisa que nunca foi feita, ou que outros já tentaram e fracassaram. E, às vezes, se tiver muita sorte, ele terá sucesso. Como seria simples a produção literária se bastasse escrever de maneira diferente o que já foi bem escrito. É por termos tantos bons escritores no passado que cada escritor é levado muito mais longe do que pode ir, a um lugar onde ninguém pode ajudá-lo. Já falei demais para um escritor. Os escritores devem escrever o que têm a dizer, e não falar. Eu lhes agradeço mais uma vez."

A propósito, o maior iceberg do mundo é conhecido como A-76 e está à deriva no Mar de Weddell, no oceano Antártico. Com 25 km de largura, cerca de 170 km de comprimento e área superior a 4300 quilômetros quadrados, ele é quase quatro vezes maior do que a cidade de Nova York.

Quando criança por ter reações congeladas, ganhei o apelido de iceberg e, não gostei mas, também nada falava...achava triste informar pessoas que apelidos e certas brincadeiras eram desagradáveis... apenas me afastava em silêncio e com cerro notoriamente fechado. Fui uma criança muito estranha... gostava de ficar sozinha, ler, fazer o caderno de caligrafia... e fazer ponta do lápis... e, aí lembrava da ponta do iceberg... havia um mundo a ser escrito justamente a partir da ponta do lápis... narramos o que nos vai na alma, no espírito e, até o que imaginamos e que jamais existiu mas, serviu de esperança.  Creia: nossa imaginação pode nos salvar da iniquidade.
 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/02/2024
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