Marília era antissocial. Tentava ser simpática e civilizada. Mas, no fundo era avessa a uma intensa interação social. Resumia-se ao necessário. Havia recebido um presente de razoável tamanho de um parente seu, que nem era tão próximo, tampouco, afável. E, intimamente, questionava-se: o que diz a etica social? Abro ou não abro? No Oriente vige a tendência de não abrir o presente diante de quem o presenteou. A razão reside no respeito ao outro. No Ocidente, particularmente, nos países latinos, as pessoas esperam ver a reação de alegria de quem recebera o presente. Assim, abrir se tornara quase obrigatório. Marília permanecia num impasse. Agradeceu penhoradamente o presente ao seu primo Guilherme, apelidado de "Gui-Gui"... Marília diante da alcunha logo lembrou-se de uma boneca de olhos arregalados e que mexia feito autista a cabecinha... Guilherme passara boa parte de sua existência morando nos EUA, em Orlando. Era um profissional bem sucedido e, veio ao Brasil apenas visitar os parentes distantes... Gui-Gui era simpático, mas era estranho ele pintar o cabelo de loiro. Mas, enfim, o que é o reino da estética diante do resto? Depois do agradecimento, Marília pediu licença e foi ao banheiro. Fazia um calor intenso... sensação térmica de cinquenta graus Celsius... Clima desértico... no fundo, Marília desejou ser um cactus, pois tudo seria mais fácil. Pois, as regras sociais e, particularmente, a etiqueta são realmente um complexo emaranhado. Logo que saiu do banheiro, veio Guilherme, interpelar Marília...: - abra logo o presente, para eu saber se você gostou do mimo. Marília com sorriso de Mona Lisa arrependida, foi abrir o mimo. Arre!