Não sei ser um fingidor
Se sinto dor...
lastimo, passo a gemer
em semitons e sustenidos.
Fingidor?
Para quê o teatro?
Não posso encarnar duplamente
o que simplesmente sou...
E, ainda assim sou temido.
Por vezes, estou tão deslocada.
Um ponto fora da curva.
Uma curva fora da elipse.
Uma elipse a equilibrar
o infinito e a morte.
Na minha lápide.
Deixem apenas reticências.
Minhas palavras se gastaram
Meus fonemas emudeceram
Sou soprano contralto
E, portanto, não estou apta
a entoar cânticos.
Ou a esmerar-me em paródias.
Cada um é, no fundo,
uma piada decadente.
Ri-se hoje,
do que ontem era prosaico.
O futuro rirá de tudo...
de nossas ilusões patéticas,
de nosso lirismo pret-a-porter
e dos sapatos exóticos
a ensaiar passos em
meio ao deserto.
Ri-se daqueles que se acham
estarem absolutamente certos...
Não sei ser um fingidor.
A dor se cura porque a sinto.
Meu corpo inteiro embarca
no mar de patologias
e a senitude extingue qualquer razão.
Sou míope feito uma porca.
Sem os óculos, só posso imaginar a cena.
Sem os óculos,
posso ter a esperança de que
algo é melhor do que simplesmente é...
Fernando era gerúndio em pessoa.
e, de pouco em pouco nos emabriaga
pela poesia verdadeira
jogada na quadra do tempo.
Jogada à-toa.