Maria lia a poesia de Cecília Meirelles, chamada Herança... e, logo no início dizia: "Eu vim de infinitos caminhos, e os meus sonhos choveram lúcido pranto pelo chão (...)". João, seu irmão, ouvia tudo de olhos arregalados... e, confessou que passaria a pisar de mansinho para não pisar nos sonhos... Maria era bem mais velha do que o irmão... Mas, a infantilidade de João não era apenas por conta da idade, mas de seu coração crédulo e esperançoso. O pai de Maria e João adoeceu, primeiro teve uma forte pneumonia que com a evolução transformou-se em tuberculose. Depois de dois meses internado, veio a falecer. Era difícil para mãe informar e conformar os filhos do falecimento do pai. João que era sempre ladino, perguntou com ar abobado: - Mãe, o que é falecer? E, a mãe atônita, sussurava entristecida:- Filho, é morrer, deixar esse mundo e ir para o mundo dos espíritos... Para João, a viagem do pai era difícil de entender, tanto que sugeriu: - Ora, mãe, vamos todos juntos... lá tem espíritos de meninos para eu brincar? A lágrima da mãe percorreu todo seu rosto e, suicidou-se logo após o queixo, jogando-se sobre a saia preta que já acenava um luto. A lágrima fora absorvida. Disse em tom grave: - não podemos fazer essa viagem. Ficaremos aqui, vivos e juntos. Maria praticamente não chorou. Ficou triste, mas procurou não chorar... Afinal, lembrando a poesia, havia infinitos caminhos, onde podemos alcançar a experiência, consolo ou até prêmio... Era preciso lutar. Todos os dias. Incansavelmente. Com empatia e respeito. Pois, a dor é mestra sagaz e ensina corretamente como seguir por quaisquer caminhos. Caminhos que nos guiam até o infinito.