Paradoxo da Tolerância.
Paradoxo da Tolerância.
Ou intolerância paradoxal.
Abordar o paradoxo da tolerância, por vezes, nos leva observar a ascensão de extremistas armados com discurso de ódio e incitando a violência. E, em anos eleitorais, tal fenômeno é verificado. A indigna polarização ideológica resulta em constantes ataques à dignidade com base apenas no reles posicionamento político.
Esse paradoxo nos faz questionar se realmente é possível dialogar com todos? Inclusive com os que pregam as ideias intolerantes. O que define a tolerância é ato ou efeito de admitir ou aquiescer, sendo necessário para o convívio social, o que nos leva a ter a capacidade de reconhecer o direito alheio de manifestação de opiniões, ainda que opostas às nossas. Em uma autêntica sociedade democrática é valor essencial para a convivência e para a coexistência dos grupos.
Precisamos lembrar que a intolerância levada ao extremo, acarretou muitas atrocidades como o Holocausto. Karl Popper foi filósofo austro-britânico sendo reconhecido como um dos maiores teóricos da ciência do século XX. Sua origem judaica forçou a emigrar de sua terra natal em 1937 devido à ascensão do Nazismo na Alemanha. E, foi notável por sua defesa da democracia liberal e do que chamou de "sociedade aberta”.
Na sua obra "A Sociedade Aberta e seus inimigos" publicada em 1945 em resposta aos movimentos totalitários a época cunhou a noção do paradoxo da tolerância que pretende responder a seguinte questão: - devemos tolerar os intolerantes?
E, a resposta dada por Popper é não. (grifo meu) Enfim, o filósofo orienta que a sociedade deve ser intolerante à intolerância. Pois, a tolerância ilimitada acarreta a extinção da própria tolerância.
E, o filósofo afirmou que devemos reservar o direito de não tolerar os intolerantes. E, qualquer movimento que pregue a perseguição e a intolerância deve ser ilegal. Enfim, não existe espaço para os intolerantes munidos de argumentos irracionais e iracundos. É preciso dialogar.
Lembremos que o ódio, a apatia e intolerância não são somente disseminados por meio de ações, há também incitações por meio de palavras e opiniões que podem gerar um contexto favorável a violência.
Um exemplo desse fenômeno foi o incidente das marchas neonazistas nos EUA em 2017. Na ocasião, os supremacistas brancos empunham cartazes e pregavam palavras de ordem contra gays, negros, mestiços, judeus e demais grupos minoritários, de se comportavam violentamente. O resultado final foi um óbito e mais de trinta pessoas que restaram feridas ao meio do caos e da confusão generalizada.
Esse acontecimento gerou grande debate sobre os limites da liberdade de expressão. Afinal, entender corretamente os limites da liberdade de expressão nos remete a importância da educação política e aprimoramento de reflexão crítica, capaz de identificar a real motivação que existe por de trás dos discursos de ódio e tantos outros que incitam a violência.
O Paradoxo da tolerância é um dos três paradoxos apontados pelo filósofo da ciência Karl Popper em seu livro "The Open Society and Its Enemies". O paradoxo trata da ideia de que, no ambiente social, a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Ele concluiu que devemos enfrentar a intolerância com argumentos.
A liberdade de expressão não é uma garantia absoluta, aliás, nenhum dos direitos fundamentais o são. Por essa simples razão, na ausência de proibição legal do discurso de ódio, a atuação do Judiciário brasileiro é fundamental para o combate devido aos intolerantes.
Deve-se haver mecanismo de moderação ativa de grandes mídias sociais tais como Instagram, facebook e twitter onde é trivial encontrar conteúdo hostil e que viola as diretrizes da comunidade.
Em um trabalho de 1997, Michael Walzer indagou: "devemos tolerar os intolerantes?". Ele nota que a maioria dos grupos religiosos minoritários que são beneficiários da tolerância, são eles próprios intolerantes, pelo menos em alguns aspectos. Num regime tolerante, estas pessoas podem ter que aprender a tolerar, ou pelo menos comportar-se "como se possuíssem esta virtude"
De qualquer forma, não existe apenas um caminho e nem solução simples, mas, convém recordar a célebre frase do vencedor do Prêmio Nobel José Saramago in litteris: "A tolerância para no limiar do crime. Não se pode ser tolerante com o criminoso. Educa-se ou pune-se.”
Também se pune para educar...