Crianças. Ou será mesmo crionças?
Animalizadas. Sexualizadas. Vilipendiadas.
Privadas de afeto, atenção, ou simples educação.
Jogadas no mundo, no aleatório destino de todos os filhotes.
A falta de tempo. A falta de sentimento. A falta de conhecimento.
Concretizam a solidão robusta a erigir castelos e fossos repletos de jacarés.
Crianças ou crionças?
Selvagens. Seres de vontades ilimitadas.
De hábitos soturnos ou surtados.
A gritarem, a esguincharem em público seus desejos.
Pobres crianças. Criadas ao léu.
O abismo e o labirinto andam lado a lado.
E, no infinito fronteiriço.
Nos deixam perplexos.
Onde foi em que erramos?
Onde foi que pecamos? Ao permitir demais?
Ao abandonar demais?
Crianças sem direito à infância...
Sem direito à brincar.
A fazer de conta... A ouvir histórias.
A fantasiar com unicórnios ou bruxas.
Os incontidos infantes.
Levados pelas mãos ou pelo desleixo.
Crescem. Tornam-se adultos infelizes e carentes.
Insatisfeitos com tudo e com todos.
E, reproduzem, e novamente, voltam ao cenário.
Novas crionças.
Selvagens e solitárias.
Num ciclo satânico e fatal.
Salvem as onças.
Salvem as crianças.
Salvem a natureza humana.