Esquecimento
Não me lembro de seu cheiro.
Não me lembro de seu beijo
E, nem do afeto derradeiro.
Vê-lo prostrado e morto.
Vê-lo inerte e absorto.
Foram as últimas imagens.
Esculpidas em minha retina cansada.
E, a pobre coitada
Está descolando.
A cola do apego exauriu-se.
A imagem do desejo apagou-se
A longa empreitada
Está terminando.
O tempo a dragou
lentamente.
Com as notas fortes da essência.
Com as ênclises perdidas
no abismo
A procurar o Minotauro
Só para não ficarem sozinhas.
Não me lembro de nosso amor.
Quando recordo, nem me reconheço.
Era outra pessoa.
Era outra alma.
Só recordo hoje a profunda dor.
Quando revejo, apenas envelheço.
Rugas, timidez e miopia.
Tosse, artrose e distonia.
O corpo se encolhe.
A alma se ressente.
Há lá fora, uma anemia
de reticências
ou de alegria.
Não me lembro de seu olhar
Não me recordo de seu afago.
A sua mão tépida e úmida.
E, sua ansiedade escorrendo
pelo lavabo.
O espelho ilude.
O olhar apenas engana.
E, as aparências são
simulacros inesquecíveis.