Dobrar cartas

Ficava a pensar o porquê se dobram as cartas. A conveniência de mistério simples diante de tantas palavras escorraçadas de nossos pensamentos... O ato de escrever para mim é puramente catártico... assim, expulsando tantos significados e semântica parece acalmar a alma... revisitar a paz e, até quem sabe perdoar aqueles que nos atormentam e, enxergam nessa prática, uma vocação quase religiosa e ritualística. Ficava a pensar porquê existem enigmas encarnados em gente... o sujeito teve tudo do bom e do melhor, porém, faltou-lhe o trivial afeto dos pais e, aí, era um turista itinerante entre as casas dos avós... Questionados os pais, afirmaram que era o trabalho, a saúde e, até mesmo, a inabilidade de lhe dar com crianças ou adolescentes... Epa, mas existem métodos contracepcionais seguros... ademais, por que negar afeto a um filho?  Há tanta fome e miséria, mas a ausência de afetos constrói monstros inomináveis.  Nos EUA no Instituto cientifico que estudou os assassinos em série em seu relatório denunciou que a maioria dos serial killer foram vítimas de famílias disfuncionais, de falta de afeto e, pior de ausência de referências comportamentais...E, assim criaram seu próprio mundo onde a sobrevivência era uma estratégia, no mínimo, perigosa. Recentemente, uma amiga de muito tempo me revelou envergonhada após ter três filhos que se arrependera... que os filhos foram acidentes de uma juventude desregrada... E, a olhei profundamente, e disse-lhe que era uma pena que ela não aproveitasse esses filhos para amá-los e, ser amada... ou simplesmente, para aperfeiçoar a sobrevivência. Chocou-me, terrivelmente, mas devo abster-me de julgar... Eu não estou na pele dela e nem usando seus chinelos. Por vezes, o silêncio é bem melhor que uma enxurrada de fonemas e censuras. Enfim, alguns acreditam que sua vocação é apenas passar o tempo da vida. Outros, no entanto, tentam extrair aprendizados... Cada um dobra suas cartas, uns se contentam com o mistério e, outros, apenas querem decifrá-lo.