"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

Verão do veludo vermelho. BVIW
Fui procurar um baú de madeira antigo que guarda as fotografias de família. Deparei-me com uma em especial, era menina com menos de dez ano de idade, estava arrumada com um vestido branco e um laçarote na cabeça. Cruzes, como um dia aquele acessório foi considerado bonito em algum momento... enfim... O local da fotografia era uma praça famosa no centro do Rio de Janeiro, a célebre Cinelândia (que tinha esse nome por estar repleta de cinemas). Ai quanta saudades... Era próximo aos dias natalinos e, então havia um papai Noel com sua indefectível roupa vermelha de veludo, com gorro e uma vistosa barba branca. Hoje tenho noção que fui uma criança incomum. Primeiramente, fazia um calor perto dos quarenta graus, em pleno verão carioca, estava o sujeito vestido da cabeça aos pés de veludo com botas pretas... Depois, aquela barba branca enorme que dava impressão de falta de higiene e asseio... Minha avó achou interessante eu posar com o papel Noel para a fotografia.  Ainda bem que era em preto e branco. Eu, naturalmente, não gostei. Recusei-me a sentar no colo do Papai Noel. Aceitei apenas e à contragosto de sentar ao lado dele, no trono do papai noel. E, ficava pensando será que ele é nobre? Príncipe? Rei? Imperador? Ou pelo menos um conde? E, o papai noel colocou as mãos vestidas de luvas brancas em volta de meus braços... e, eu me encolhi feito uma ratazana acuada. Apesar de em tenra idade eu era alta e magra... De uma fragilidade inexorável...  Mas, a cabeça mergulhada em um mar de perguntas. E, então ele me perguntou sorridente: -O que você vai querer de presente de Natal... eu com olhar reticente falei... qualquer boneca serve ...  Mas, me responde uma pergunta? Você não sente calor? Ele sorriu e disse que veio do Polo Norte... eu sorria , sem graça,  e retruquei ainda bem... porque com esse veludo você vai derreter em breve... Tiramos foto que ainda molhada estava nas mãos de minha avó que visivelmente estava feliz. Eu, no entanto, disse: - a fotografia é da senhora, certo?  Porque eu não a quero... Minha avó deu um bixoxo e, disse, você é irritante. Sorri feliz e aceitei plenamente. Fui uma criança simplesmente insuportável.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/09/2023
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