Carta de despedida
Eu poderia lhe escrever sobre as flores. Pois a primavera se aproxima.
Mas, meu coração está sofrendo no inverno, padecendo no gelo das palavras formais,
dos gestos triviais... Significados bastardos e mendicantes.
Eu poderia lhe escrever da cor das flores, do sol de manhã a imantar tudo
de dourado, de forma delicada e mansa.
Mas, meu coração padece num deserto, a mirar a areia imensa e fofa.
De que me vale a beleza das flores sem a sua beleza?
De que me serve o calor do sol, sem o seu calor?
Tudo é tão reticente...
Tudo é tão diferente diante de sua ausência
Vou partiu, empilhou as lembranças, arquivou a saudade.
Esqueceu-se de despedir. De acenar pela última vez
Quem saberá quando nos reencontraremos.
Eu não serei mais eu. E, você também será outro
Outrem.
Quem fomos, jamais voltaremos a ser.
Além de um ninguém esquecido no desvão da escada.
Não me arrependo de ter amado. E, desamado.
De ter me doado e nada recebido.
De ter perdido as esperanças.
Com o fim do inverno,
brinda-se a primavera,
e a primeira gota de orvalho
é aquela lágrima que não verti.
Adeus.