No deserto de palavras
A alma se esconde nas sombras
E os fonemas mudos reverberam pela sala.
Não existem respostas.
Não existe empatia.
Nem seres humanos.
Há exigências absurdas sem afeto.
Há vínculos quebrados por vaidade.
Há um deserto sem areia, camelos ou beduínos.
No horizonte morre o sol solenemente.
Nas rajadas alaranjadas e vermelhas
Sangrando-se ao final da tarde
como se fosse um suicida pedindo misericórdia.
Há um cansaço inexpugnável.
Os músculos. Os joelhos
As pernas que bambas deixa o corpo cair.
E, no abismo soturno repousa um corpo quase sem vida.
A respirar o parco oxigênio.
A respirar a poesia dos guetos.
O lirismo caprichoso dos que sofrem.
E, aquele perfume antigo de rosas.
Hoje todas as primaveras estão findas.
Todos os outonos estão desnudos e sem folhas.
Todos os invernos derreteram-se
na bruma da memória ou do Alzheimer.
Onde coloquei aquelas lembranças.
Em que bueiro vazou tantas recordações.
Onde guardei aquela aliança.
Que um dia significou tanto.
E, hoje é heresia e tristeza.
Minha tia, me chamou de filha.
Acariciou-me com ternura.
Fez recomendações para suas exéquias.
Pediu que escolhesse uma frase bonita
para seu epitáfio.
No dia seguinte, estava morta.
Pensei... pensei...
Aqui jaz uma alma eterna. De afeto frutífero e
que deixou legados...