Era um edifício bonito, com grande fachada de mármore verde, era chamado de Condomínio Príncipe Luís XV e, em cada andar havia apenas dois apartamentos. Eram espaçosos e confortáveis, além de ter uma bela vista da praia. No sexto andar, acreditavam os moradores mais antigos que existia uma maldição, pois havia duas famílias residentes e, completamente disfuncionais. A primeira família era composto de Marlene, viúva do General Menezes e, seu filho Heitor com vinte e cinco anos, era "homossexual de gaveta". Havia constantes brigas entre mãe e filho e, eram ruidosas, quebravam coisas e vociferavam ofensas e palavrões. No fundo, Marlene não entendia, nem aceitava a homossexualidade recatada do seu único filho. Ainda no mesmo andar, mas em outro apartamento, havia outra família composta de Flávio e Michele, ele já na casa dos setenta anos, engenheiro aposentado e conservador e Michele tinha apenas quarenta anos, sem profissão definida, tinha sido de tudo um pouco, era a segunda esposa de Flávio que se revelava cada vez mais possessivo, ciumento e violento. Talvez por conta da diferença de idade do casal. As discussões eram raivosas apesar de ocorrerem em volume civilizado, porém, não eram menos graves, tanto que um belo dia, num acesso de fúria e ciúmes, ele empurrou Michele pela janela da sala. E, seu corpo estatelado na calçada, sangrou lenta e silenciosamente. Mais, um feminicídio para as estatísticas. Heitor quando se deparou com a cena atalhou para a mãe: - É isto que é ser hétero? Prefiro morrer gay!. Marlente riu discretamente mas completamente desconcertada.