Há um deserto lá fora. Não há almas. Não há pessoas. Nem reles animais ou plantas.
O céu cianótico me sufoca, e sol alaranjado parece preconizar o apocalipse.
Minhas ideias solitárias queimam como se fossem incensos. Lentamente.
Mas as narinas anunciam sua presença.
Há um deserto, lá fora.
Um abismo silencioso. Sem fonemas. Sem ruídos.
Nem um bemol ou sustenido.
A ofegante respiração duela com pulmões cheios de alergias.
Rir em silêncio é como rezar... Sem a mágica das palavras, são apenas ritos cheios de símbolos.
No deserto ninguém tem empatia. Ninguém se sente humano. Ninguém respeita a dor alheia.
Os percalços do caminho. Os espinhos das flores ou dos xingamentos.
Envelhecer contemplando o deserto é doloroso.
Procuro ter paciência. Resiliência.
Procuro matar a sede só em olhar orvalho.
Procuro matar a fome só em lembrar o fastio.
Tudo é tão ilusório e abstrato.
Mas, o deserto lá fora é duro e concreto.
Cinza e sincero.