Ao ouvir o farfalhar das cortinas, correndo nos trilhos inexoráveis... Michelle pensava na tarde que ia morrendo.
Seus tons alaranjados e vermelhos e, até roxos... Sentia muita saudade de Paulo, seu amor que estava longe, viajando a trabalho. Ele sempre lhe mandava mensagens e fazia alguns ligações. Já fazia um ano que ele teria ido para Espanha, e o contato ia ficando cada vez mais raro. Michelle matutava sobre como a literatura vem abrir as cortinas empoeiradas e esquecidas da história. Preocupava-se com o Brasil, a iminência de um golpe de Estado e, outras coisas assombrosas... Ele fora para Espanha para trabalhar e também fazer atualizações, pois era engenheiro e, precisava atualizar-se. Muito provavelmente, Paulo não voltaria mais para o Brasil. Michelle e Paulo namoravam quase há uma década... porém, o casamento não saiu... Fosse por conta de fatores inesperados e alheios a vontade dos enamorados. Fosse pela vida dura que Michelle tinha. Michelle era professora pública, além de um salário pífio enfrentava uma escola sempre precarizada e, a violência constante nas escolas. Facadas, tiroteios e, toda sorte de embates bélicos, principalmente, quando havia incursão policial no entorno da escola. Bem que Paulo a convidou para ir para a Espanha, mas Michelle não fora, quem cuidaria de sua mãe anciã? Quem tomaria conta das casas dos pais e, de sua velhice? Enfim, obstáculos morais e afetivos. Mas, Michelle não deixava de sonhar com uma vida melhor, iria prestar concurso para o Banco do Brasil e, deixaria de ser professora para ser bancária... Paulo achava a troca profissional pouco vantajosa. Michelle admirava a beleza das cortinas dotadas de pequenos bordados em formato de sinos... Tinha encomendado para seu futuro casamento, mas como não se casou, pôs a usá-las... Enfim, o vento faceiro produzia uma movimento mágico com as cortinas... E, logo a noite principiava... sob o brilho da lua sempre enigmática. Ao fechar as cortinas, Michelle ainda procurava uma nesga de esperança em seu coração.