"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


É tarde.
Todas as badaladas já soaram
Em seguidilha. Impecáveis.


É tarde.
A infância passou...
A juventude passou...
A maturidade se torna senilidade.

Esqueçamos coisas óbvias.
Nomes, lugares e datas.
Só sentimentos e valores ficam no arquivo.

 

É tarde.
O carrilhão da sala revela solenemente.
A catedral com as luzes acesas 
solicita orações, rezas e procissões.

 

É tarde para recuperar tanta coisa.
Entulhamos coisas, fatos, estórias nos bolsos.
Nas bolsas, nas malas e, na consciência.

 

Tem dias, que a consciência de tão repleta
Não consegue ordenar as sinapses.
Não consegue hierarquizar tudo.
Catalogar, inserir, etiquetar ou nomear.
Fica tudo tão improvável.
Tão reticente.


A deitar-se no horizonte infinito.
Dormindo com a finitude do dia e das manhãs.

É tarde.
Agora o relógio cronometra os 
derradeiros momentos.


Essa enxaqueca a me dominar impávida.
O olho que tudo vê, mas não enxerga.
A mão que pode tocar, mas refuga.
Os pés que apalpam o caminho
a procura de vestígios, pistas ou
enigmas ainda por decifrar...

Pés que tropeçam no visgo.

 

Agora a gaveta range.
As cortinas dançam ao vento.
A cartomante decifra o tarot.
E a sorte já estava lançada 
desde que nasci prematura.

 

Todos os dias
Ao final da tarde.
Diante dos últimos raios vermelhos
e no lilás das nuvens
A poesia colorida do entardecer
me enebria e embriaga...

 

E, apesar de reconhecer que é tarde.
Não desiste de ter esperanças.
De ter alegrias, aprendizados e 
seguir junto para um destino
que traçamos com nossa vivência.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/06/2023
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Comentários
Rosangela Calza
Aaaaa que encanto de poesia! Aplausos.... uma boa noite pra você, querida poetisa.
Sidnei Garcia Vilches
"A poesia colorida do entardecer / me enebria e embriaga..." Há reflexões, imagens (que saltam dos versos), sublimações e uma aura nostálgica que adorna o poema na beleza do seu corpo, de sua estrutura. Não vejo só a escultura de Carlos que olha a vida na superfície do oceano, mas sinto a presença de seu espírito em teu poema, Gisele, sem, no entanto, encobrir, sequer por um momento, os traços desse maravilhoso talento de discípula que você tem. Eu me sinto até intruso ao fazer este comentário, pois a tua arte poética supera em muito os meus singelos versos. É um descanso para os olhos ler um poema como este. Abraços fraternos.



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