Eis que percebo que aqui em meu quarto pousou uma esperança. Não aquela clássica e de todo ilusória, apesar que haja sempre quem a sustente. A esperança a que me refiro era o inseto. E, todos de repente, a miravam, pois estava pousada no branco da parede, o que ressaltava a beleza de seu tom de verde. Esgueirei-me sobre ela e falei:- quase não tem corpo. É ínfima. E, aí, uma das crianças me questionou: - ela tem alma? Fiquei preocupada em responder, e disse: tudo tem alma... até essa cadeira de madeira... que antes estava no meio da floresta até ser transformada em assento. A mulher queria se livrar do inseto. Bradei contra. Lembrei-me de minha vozinha que falava que não se deveria espantar nem aranhas e nem esperanças. Não trazia bom agouro. Confesso que fiquei encabulada com a extrema nostalgia e saudades de minha avó. Mulher forte, sábia e muito querida. Outra criança me perguntou se poderia alisar a esperança... Acenei com a cabeça que não... Então: perguntou: para quê ela serve? Respirei fundo: - para nos dar alguma esperança... Temos que resistir, sobreviver e ter esperança em dias melhores, em pessoas melhores e, até, quem sabe, numa natureza melhor...