O amor acabou.
O fel das palavras escorria.
Não podemos continuar.
Não há diálogo.
Não há sequer uma faísca.
Tudo está seco.
E, o deserto adonou-se de tudo.
Nem areia há.
Há uma ausência.
Uma suspensão intrínseca.
Um mar de vírgulas.
Pausas infinitas.
Marasmo e lágrimas.
E, reticências perdidas no poente.
O amor acabou.
Cessaram as juras.
Cerraram-se as janelas.
Não há vento.
Não há primavera.
Pólen perdido morre
sem germinar.
Só outono de folhas tépidas.
Queimadas.
Vermelhas e amarelas.
E, a promessa de inverno.
O frio cortando palavras.
E serrando querelas.
Não me lembro mais de sua voz.
Se aguda ou grave.
Ou semi-aguda e semi-grave.
Se barítono ou tenor.
Se bemol ou sustenido.
Mas, o seu amor era tépido.
Termal e aquecido.
Dormia na memória como
algo longínquo e esquecido.
O amor morreu.
O luto floresceu.
E, nas lágrimas
restam os últimos
orvalhos que brindaram
a natureza.
E o tempo, por fim,
impiedosamente,
sepulta tudo.