Poesias são sempre bastardas.
Conhecem a mãe mas nem sempre o pai.
Por vezes o pai as renegam...
Por serem atrevidas, pornográficas
ou simplesmente anômalas.
Poesias são sempre marginais.
Andam na contramão. Correm fora da estrada.
Não respeitam trilhos. Ditames ou ditaduras.
Odeiam chibatas ou censuras.
De nada adianta amordaçar.
Aprisionar.
Ou até matá-las.
Pois vociferam
por todos os poros da natureza.
Na gota do orvalho.
No respingo da chuva.
No óleo quente que salta.
Na palavra que escorrega da boca e cai no chão.
Poesias são sempre bastardas.
Não recebem coroas ou homenagens.
Não remendam torturas ou vantagens.
Está no é da coisa. Na essência das flores.
No perfume inebriante. No álcool da bebida.
Na janela que mira a lua e vesga retruca.
Poesias são sempre bastardas.
Corrompem a todos.
Seja por sua graça ou aleivosia.
Talvez seja uma fina ironia.
Talvez seja apenas alegria.
No fundo, pode ser heresia.
Pois é pecado, em plena sacristia.
Poesias são sempre alheias
e ao mesmo tempo conexas.
Possuem uma conexão mágica
com a leveza e as tristezas.
Mas, não chore.
O planeta está ficando sem água.
As palavras estão ficando secas.
E, o árido deserto conspira
e lança flexas
para além do infinito.