O efeito contágio da violência escolar
Estudiosos apontam o perigo do efeito contágio. Basta observar que a Polícia Civil de São Paul registrou nessa última semana, sete boletins de ocorrência (B.Os) envolvendo planejamentos de adolescentes de possíveis ataques às escolas. E, por essa razão o Secretário da Segurança Pública veio reforçar o especial pedido para que as pessoas deixem de compartilhar imagens dos ataques e de divulgar a identidade dos acusados e vítimas.
A preocupação cinge-se ao chamado efeito contágio que aponta para o estímulo para casos semelhantes quando a
mídia repercute o massacre.
Suspeita-se que a vasta divulgação do ataque ocorrido na escola situada em Vila Sônica, aonde uma professora fora
assassinada à facadas, esteja motivando outros adolescentes. O que foi corroborado pelo depoimento prestado à Justiça pelo menor infrator e autor do atentado, que afirmou que se baseou em outros exemplos alardeados pela
mídia.
Em uma dessas ocorrências que inclui novos planos de ataques que chegaram à política pelo Disque Denúncia, um adolescente do nono ano do ensino fundamento foi armado ao colégio, na capital paulista. Em Itapecerica da Serra, na região metropolitana, uma mãe relatou que o filho foi ameaçado por outro estudante, que teria prometido um ataque similar ao da Vila Sônia.
Em outra ocorrência, PMs foram informados de que um aluno estava próximo da escola com uma arma, e os agentes constataram que o jovem portava um revólver simulado. Em Santo André, um estudante ameaçou a professora durante a aula, dizendo que os educadores deveriam ser esfaqueados e, que ele faria isso no dia seguinte.
Também houve registro de um aluno portando um punhal em escola de São Bernardo do Campo. Outros Estados também registros boletins. Na tarde dessa terça, a polícia militar do Rio de Janeiro foi acionada, depois que um aluno foi contido por funcionários da Escola Municipal Manoel Cícero. Ele tentou atacar colegas com golpes de faca.
Autoridades e especialistas norte-americanos enfrentam, há décadas, o desafio de tentar impedir massacres como o ocorrido semana recentemente na escola Raul Brasil, em Suzano (SP). A tragédia paulista deixou dez mortos (entre eles os dois atiradores e 11 feridos).
Cada tragédia costuma ser seguida por semanas de discussões, em que um lado apela por restrições ao acesso a armas de fogo como forma de impedir novos ataques e, o outro, defende que a solução seria aumentar ainda mais a presença de armas.
Enquanto isso, muitas escolas americanas vêm reforçando sua segurança, com a instalação de detectores de metais, portas reforçadas, software de reconhecimento facial, coletes, mochilas e até lousas à prova de bala.
Mas apesar dos esforços, o país ainda não conseguiu reduzir o número de ataques.
Não há dados oficiais e nem uma definição precisa sobre o que pode ser considerado um ataque (com divergências sobre número de mortos ou feridos, se ocorreu em horário de aula ou não, etc.), mas um levantamento da publicação especializada em educação Education Weekly registrou 23 casos com 113 mortos e feridos em escolas norte-americanas em 2018.
Também são comuns nas escolas americanas exercícios de simulação de tiroteios, em que alunos e professores praticam rotas de fuga e medidas como trancar portas de salas de aula com cadeiras ou mesas. Apesar da resistência, em pelo menos 14 (quatorze) Estados americanos a prática de armar professores e funcionários já é adotada por algumas escolas e distritos escolares, principalmente em zonas rurais, onde a polícia levaria mais tempo até chegar ao local de um suposto ataque.
As regras variam em cada Estado dos EUA e em cada distrito escolar. A participação não é obrigatória, mas professores e funcionários que manifestam interesse recebem treinamento, que costuma ser em torno de 80 horas, e podem então portar armas ou ter acesso fácil a armas guardadas nas dependências escolares.
Não há avaliação oficial dos resultados dessas iniciativas. No Texas, por exemplo, defensores da ideia ressaltam o fato de que não há registro de acidentes e afirmam que sua experiência pode servir de modelo para outros Estados.
Por outro lado, opositores dessas medidas salientam que muitas escolas alvo de massacres já tinham sistemas robustos de segurança e guardas armados em suas dependências, o que não impediu o ataque.
A prevenção engloba mais do que medidas de segurança e começa bem antes de um atirador chegar à escola. É preciso uma abordagem ampla de saúde pública para lidar com a violência por armas, que seja baseada em evidência científica e livre de posições partidárias.
Segundo o Serviço Secreto dos EUA, na maioria dos ataques em escolas do país, alguns estudantes sabiam dos planos dos atiradores e haviam manifestado preocupação com seu comportamento. A orientação é criar um clima positivo em que os estudantes sintam que podem falar de suas preocupações e oferecer canais que facilitem o relato dessas ameaças, seja pessoalmente, por telefone, aplicativo de celular ou online.
Mas também é necessário que professores e funcionários tenham orientações claras sobre como reagir a esses relatos. Uma recomendação é que as escolas criem equipes compostas por diretor, conselheiros, assistentes sociais, psicólogos e guardas escolares para conversar com testemunhas e avaliar a gravidade da ameaça.
Dependendo do grau da ameaça, o indivíduo pode ser encaminhado a aconselhamento informal ou terapia. Em casos mais graves, em que há risco iminente, a polícia pode ser envolvida.
Os especialistas em violência afirmam que essas equipes nas escolas devem atuar em conjunto com os serviços de saúde mental da comunidade para dar apoio a pessoas que estejam enfrentando dificuldades e tenham risco de cometer violência. Em caso de expulsão da escola, esses indivíduos devem continuar sendo monitorados e recebendo apoio.
É um alerta para se cuidar da saúde mental de crianças e adolescentes e, principalmente, cultivar mecanismos para evitar a violência e os ataques físicos, morais ou psicológicos no ambiente escolar.
Deve-se, positivamente, evitar o efeito contágio e que a propagação de tais feitos venham conferir notoriedade aos atos e aos autores. Deve-se cogitar em Educação Digital e em dar maior atenção aos hábitos de crianças e adolescentes e enfatizar o diálogo e a cultura da paz. Deve-se combater o bullying em todo os âmbitos bem como a prática de preconceitos. A escola deve ser humanizante e cidadanizante.