Era muita demora, fazia anos que não via a filha. Recorreu as fotografias e as lágrimas rolaram. No peito, há um eco misto de culpa e ignorância. Nunca soube exatamente porque ela partira. Ela seguiu o caminho dela e abandonou seu passado, como se fosse uma chaga incandescente. Seguia a vida, sentindo-se miserável, equilibrando-se sobre as reticências do caminho, ou então, se pendurando nas incertezas cotidianas. Morre-se um pouco a cada dia, envelhecem as folhas, caem no outono, mas anuncia-se também a primavera. Já tinha se resignado, a filha não voltaria. A história interrompida sem saber porquê e nem pra que. Talvez o tempo seja um laboratório a desafiar nossa humanidade. Mas, nesse experimento, sobreviver ainda é preciso, nem que seja para escrever um conto. Ou bilhete a deus. Meu medo é ser mal interpretada pelo Criador. Mas, ele sabe de todas as coisas que não precisam ser ditas ou escritas. Sarah fechou o caderno. Colocou-o, delicadamente, na gaveta e, arquivou todas as emoções daquele dia.