Abre o livro. Aproveite, abra a alma. Com a delicadeza peculiar da sobrevivência. Leia o texto e o subtexto. Não se esqueça das notas de rodapé. Diante daquela obra, meus pensamentos digladiavam-se... a duvidar de tudo e de todos. Abre o livro, sussurrava-me a consciência. Mas, no íntimo, a ignorância nos dava aquela madorna confortável e até inocente. Dentro do livro, há mais que palavras, enredos e narrativas. Há nos umbrais semânticos, sempre um alerta. Um cuidado pungente de quem pisando em ovos, ganha a destreza de malabarista. Não, mas nem tudo é técnica. Nem tudo é conteúdo ou sabedoria. Por vezes, são apenas instintos. São impulsos elétricos inexplicáveis, a recomendar o progresso e, não a morte. E, mesmo em silêncio, por entre a leitura que percorre os olhos. Há de se treinar para enxergar... Ver muito além das aparências, decifrar geometrias ou esfinges humanas que surgem num horizonte infinito de perplexidades. Abra o livro. Feche-se aos preconceitos, as aleivosias e, principalmente, ao impulso de se acomodar-se. Diante da confissão solene, abrindo-se ao livro, nos tornamos parte de um tema muito maior. A inconsistência e a inconsciência tramam num canto do universo para incluir o improvável, o inexorável e, principalmente, a curiosidade.