Reticências
Voce só me respondia por reticências.
Lá fora, havia uma névoa... não se sabia se o dia acabava de nascer ou de morrer.
O pertencimento estava guardado nas gavetas.
Ao abri-las libertávamos os elos...
Rompíamos os laços...
O vinco da calça estava apagado.
A memória flutuava entre as nuvens.
Os vestígios seus povoam a sala.
Os chinelos.
Os óculos
E, um pé de meio solitário
perdido no sofá...
Pobres dos pares que se divorciam.
As vezes, a melhor resposta é mesmo
a reticência.
Que a decência de se calar.
De insinuar...
Dizer não dizendo...
Ou apenas calando para a semântica
gritar
Vi na janela um gavião carijó
posar... bela ave de rapina
a roubar o momento...
E, a me ensinar
que os olhos certeiros
podem preencher
todas as reticências.