Nas costas
O que carregas nas costas? Será um aleijado? Será culpa? Será medo ou solidão? Pesa sobre o corpo as mágoas acumuladas, choro reprimido e tudo aquilo que não destes expressão...
O que carregas nas costas? É história ou ficção? É dinâmica ou inércia...? O encargo de ter nascido e crescido num mar de incertezas... num abismo de memórias e paradoxos. Essa humanidade portátil. Essa essência descartável e, ainda uma modernidade líquida que vai vazar nas calças... nas costas onde se escondem defeitos e galhardias... nas costas mora todo o peso de ser mais um animal frágil num planeta provisório.
Há um outono sem folhas cadentes. Há um céu sem estrelas cadentes. Há uma primavera que oferece apenas uma promessa de flor mas, não há perfume nem sonhos. Carregamos nos sonhos nas costas? Será? Que fardo é este a nos pesar pela existência adentro? Que sombria dúvida nos assedia, ao caminhar, ao titubear, ao falar sem semântica ou significado... ou então, apenas estar vagando num amontoado de células, cheia de moléculas, numa equação misteriosa que apenas nos informa: tudo é provisório e nada será como antes...