A torrência do deserto
Chovia torrencialmente.
Bradavam os céus com trovões e raios.
A tempestade alastrava-se pelas ruelas.
E, sem escoamento, pequenos riachos
se formavam e arrastavam tudo pelo caminho.
Chovia torrencialmente.
As gotas elétricas da chuva
lavavam literalmente tudo:
corpos e almas.
E, o vento ainda chicoteava o
peregrino que insistia em trilhar o caminho.
Havia uma paz líquida naquela tempestade.
Primeiro, umedecia as faces.
Depois, regavam as pegadas,
como houvesse sementes a germinar...
E, por derradeiro, a enxurrada intrépida
desfolhava as árvores e destruía as flores.
Pétalas coloridas estiradas ao chão.
Como fulminadas pelas rajadas de chuva.
Chovia torrencialmente.
Em minha mente, só as ideias pingavam.
Os sentimentos estavam, todos, secos
no deserto que é a humanidade.