Amo atentamente.
Os mínimos detalhes.
A sombra.
O assobio do vento.
As folhas caindo sem outono.
A primavera de flores mortas.
E, perfume fugidio.
A eternidade, lá fora, sangrando
no entardecer solene de um verão qualquer.
Amo silenciosamente.
Sem palavras.
Sem fonemas.
Enigmaticamente por meio de charadas
ou nas jogadas de pôquer.
Sem enfisemas.
Amo como bicho castrado.
Preso e acorrentado.
Sua doçura atacava meu diabetes sentimental.
E, por amar amiúde e inconstante.
Por vezes, nas veias percorrem ódios
pungentes.
E que deixa rastro.
E, de repente, morrer pode ser prova de afeto.
E, por vezes, viver pode ser apenas um mistério
para dar sentido ao amor que sentimos.
Tudo é tão deletério.
Amo com a precisão de um pássaro.
Com o desleixo de um beduíno.
E, saio a dispersar pensamentos...
E, com pendor genuíno
Deixo diluir todos os sentimentos.
Na fluidez do arco existencial.