Sincericida
Tudo que você quer. Bem poderia caber numa modesta caixa quadrada. De arestas precisas e de volume pequeno.
Empilhar muitos desejos deixa a alma tensa e pesada. Tudo que você quer poderia ser leve, diáfano... e, dispersar-se com o vento indolente a atravessar horizontes e povoar o infinito. Por vezes, só algumas palavras, miúdas em fonemas carinhosos. Outras vezes, um gesto, um braço, uma mão. Um carinho de irmão. Em outras tantas, ler poesias em voz alta, para convencer o espírito da beleza ainda existente... Tudo em vão. A alegria se foi. Você partiu. Deixou reticências e mágoas. As mágoas secaram. As reticências se apagaram. E, tudo que você quer agora, é viver o presente, suspirar pelo passado e, prever o futuro como uma bruxa ou seria fada? O que nos define
por ser bom ou mau? O que nos pecha como sociável ou antissocial? Eu gosto do silêncio. De poucas comemorações. Ocasiões sociais me constrangem até porque nelas vimos marionetes fingindo ser humanos... Ledo engano. Tudo é um teatro. Com máscaras, sem máscaras. Onde reina a hipocrisia e, quem é sincero, torna-se apenas sincericida. Confesso: esqueci de fazer um curso de teatro. Hoje em dia, tão necessário...