O poeta do século Carlos Drummond de Andrade já nos ensinava: "Viver em sociedade requer instinto
de formiga, presas de leão e habilidade camaleônica". Mas, é preciso reconhecer que não é fácil se relacionar bem. O convívio equilibrado não é aquele que une as pessoas perfeitas, mas aquele em que cada um aprende a conviver respeitando o outro. A convivência entre as pessoas é tema controvertido.
A Fábula da convivência é de autoria desconhecida e fora utilizada como metáfora "O dilema do porco-espinho" do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) para ilustrar o problema da convivência humana, onde o filósofo expôs esse conceito em forma de parábola na sua obra Parerga und Paralipomena, publicada em 1851, onde reuniu várias de suas polêmicas anotações filosóficas.
Enfim, o dilema do porco-espinho é apenas um parágrafo que surge no volume seguinte desta obra, no entanto, tornou-se um conto popular dotado de inúmeras versões, citada até mesmo por Sigmund Freud.
“Uma sociedade de porcos-espinhos se juntou em um frio dia de inverno e para evitar o congelamento procuraram se esquentar mutuamente. Contudo, logo sentiram os espinhos uns dos outros, o que os fez voltarem a se separar. Quando a necessidade de calor os levou a aproximar-se outra vez, se repetiu aquele segundo mal; de modo que oscilaram de um lado para o outro entre ambos os sofrimentos até que encontraram uma distância média na qual puderam resistir melhor.”
– Arthur Schopenhauer, in “Parerga und Paralipomena”. Zurique: Haffmans, 2 vols, 1988, p. 559-60.
Fábula da Convivência
Durante uma era glacial muito remota, quando parte do globo terrestre estava coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por não se adaptarem às condições de clima hostil.
Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, ajuntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso.
Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começam a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor vital, questão de vida ou morte.
E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se por não suportar mais tempo os espinhos de seus semelhantes.
Doíam muito…
Mas essa não foi a melhor solução. Afastados, separados, logo começaram a morrer. Os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar nenhum dano recíproco.
Assim suportaram-se resistindo à era glacial. Sobreviveram.
– É fácil trocar palavras, difícil é interpretar o silêncio!
– É fácil caminhar lado a lado, difícil é saber como se encontrar!
– É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração!
– É fácil apertar as mãos, difícil é reter o seu calor!
– É fácil sentir o amor, difícil é conter a sua torrente!
Melhor lição sintetizou Antônio Caio Viegas:
“Todos nós somos anjos de uma asa só e, para voarmos precisamos estar abraçados uns aos outros.”
Precisamos aprender a conviver! A convivência nem sempre é fácil, mas os benefícios são muito superiores às dificuldades. Aprender com as vicissitudes da vida, eis o grande segredo!