Considerações sobre o histórico da Guerra das Duas Rosas.
Resumo: A Guerra das Rosas foi guerra civil que dividiu as dinastias York e Lancaster (ambos descendentes dos Plantageneta) na disputa do trono da Inglaterra entre os anos de 1455 e 1485 e, encerrou-se com a ascensão dos Tudor. Os conflitos que caracterizaram a Guerra das Rosas estenderam pelos reinados de Henrique VI, Eduardo VI, Eduardo V e Ricardo III. Henrique Tudor juntou as forças e formou exército que invadiu a Inglaterra em 1485 e, Ricardo III partiu para defender seu reino, e, ambos se encontraram na Batalha de Bosworth Field, na qual sagrou-se Tudor o vencedor e, Ricardo III fora morto em combate e, com essa vitória os York perderam o poder. Através das obras literárias podemos entender o real significado da política.
Palavras-Chave: História da Inglaterra. Guerra das Rosas. York. Lancaster. Tudor. Ricardo III.
A Guerra das Duas Rosas (1455-1487) foi uma guerra civil inglesa entre duas dinastias a de York e Lancaster, da Casa Plantageneta que governava a Inglaterra.
A referida guerra fora notabilizada por traição, assassinatos, episódios cruéis e sangrentos e, finalmente, términos com a total extinção dos dois ramos masculinos dos Plantagenetas, abrindo caminho e vez para a dinastia Tudor. Essa guerra foi uma das inspirações para R. R. Martin para escrever a obra intitulada “Game of Thrones”.
A expressão “Guerra de Duas Rosas” é atribuída a Bevil Higgons que na edição de 1727 da sua principal obra “A short view of English History with Reflections and Manners, their Succession to the incidentes, to the Revolution 1688”. A expressão igualmente foi usada por David Hume em sua obra intitulada “The History of England” publicada entre 1754-1761.
Para os contemporâneos foi uma guerra entre duas linhagens da nobreza inglesa disputando o trono. A disputa envolvia sucessão dinástica e interesses políticos e econômicos e marcou o fim do feudalismo na Inglaterra.
As origens remotas da Guerra das Rosas nos remete a criação de três ducados pelo Rei Eduardo III (1327-1377) para seus filhos, a saber; Edward de Woodstock, o Príncipe Negro , o ducado de Cornwall (1337), para seu filho favorito e herdeiro aparente do trono inglês; Leonel de Antuérpia que recebera o Ducado de Clarence (1362) e John de Gaunt , recebeu Lancaster (1362).
Em 1385 ainda durante o reinado de Ricardo II (1377-1399) que era neto e sucessor de Eduardo III, foram criados o Ducado de York para seu tio Edmund de Langley e o Ducado de Gloucester para seu outro tio Thomas Woodstock .
Os duques começaram a criar redes de vassalagem, que o tempo, competiram com as dos feudos reais e que provocaram a dubiedade quanto a lealdade em relação a Casa Plantageneta.
As crises sucessórias começaram a acontecer após a morte de Eduardo III e, a morte de seus três filhos mais velhos, por isso, assumiu o trono, Ricardo II, embora fosse bastante contestado. Ocorreram revoltas camponesas, derrotas na França e, ainda, a elevação de impostos que acarretaram a sua deposição e, em seguida, seu assassinato.
O Parlamento britânico empossou Henrique IV, o primeiro monarca da família Lancaster que reinou de 1399 a 1413, mas as questões sucessórias e a instabilidade permanecia. A rivalidade profunda entre as duas grandes casas da nobreza inglesa só veio a intensificar cada vez mais. Apesar disso, o filho do rei, o sucedeu com o título da Henrique V e reinou de 1413 a 1422.
O rei-herói do Bardo sofrera muito com tantas comparações e tentativas de rebelião, mas, soube rapidamente e com violência resolvê-las. Uma vez fortalecido na Inglaterra, Henrique invadiu a França reivindicando o trono francês e, para solucionar as disputas territoriais e comerciais.
A vitória de Poitiers em 1415 sagrou-se com a morte de vários inimigos e a assinatura do Tratado de Troyers que foi muito vantajoso para o Rei inglês e, consolidou sua hegemonia.
O casamento de Catarina de Valois, a filha de Carlos VI garante o trono da França para seus herdeiros. Tudo transcorria bem quando Catarina lhe dá um filho varão, o que era relevante devido a Lei Sálica que previa a sucessão masculina do trono francês, mas Henrique V morre de difteria e, seu filho apenas assume o trono como Henrique VI. Então, os York aproveitaram a ocasião de notória fraqueza da realeza para reivindicar o trono.
Em 1429, Henrique VI foi coroado com apenas sete anos de idade e a instabilidade política era provocada entre o lorde Protetor John de Bedford que estava lutando em França e outros nobres que permaneceram na ilha.
Na época, os franceses estavam com ânimos renovados por Joana D’Arc e reverteram as conquistas de Henrique V e, ainda, coroaram Carlos VII como rei da França. Na corte em Londres, as disputas entre seus conselheiros e o fato de sua mãe seus conselheiros e o fato de sua mãe (Catarina de Valois) ter casado de novo e gerado mais dois filhos como Edmund e Jasper Tudor vão trazer novos ingredientes às disputas dinásticas.
Henrique VI assumiu o trono inglês como dezesseis anos e procurava solução diplomática para a Guerra com a França. O que enfraqueceu politicamente e atraiu a inimizade do Duque Ricardo de York, comandante das tropas em França e franco defensor da continuidade do conflito bélico. Assim, a Henrique VI afastou o duque Ricardo de York do seu comando e, o afasta da corte inglesa.
Com as derrotas ocorridas na França consolidou-se o enfraquecimento do Rei Henrique VI e, ainda havia a suspeita que a rainha Margaret (ou Margarida ou Marguerite) o traía com o Conde Somerset e, havia boatos que o filho do rei com ela, era um bastardo.
Novas rebeliões contra a alta de impostos para financiar a guerra na França e a falta de liderança do rei, só aumentava as tensões políticas inglesas. Na época, Ricardo de York liderava abertamente a oposição ao Rei.
Em 17 de julho de 1753, as forças britânicas no sul da França sofreram a grande derrota de Castillon e, então a Inglaterra perdera todas as suas possessões na França, exceto Pale de Calais. E, isto alterou o equilíbrio de poder na Europa e, encerrou a Guerra de Cem Anos, que durou, em verdade 116 (cento e dezesseis) anos.
Diante de tanta pressão, o Rei Henrique VI teve um colapso mental e Ricardo de York aproveitou-se e, conseguiu ser nomeado como Lorde Protetor. Porém, pouco tempo depois, houve uma surpreendente melhora do rei e, então levou Ricardo de York para o exílio e, para a prisão os seus opositores.
Mesmo no exílio, Ricardo de York liderou uma rebelião e, conseguiu capturar o Rei. O Parlamento inglês nomeou Ricardo, de York, novamente, como Lorde Protetor. No entanto, Henrique VI recuperou seus poderes dispensou Ricardo de York e, tentou um acordo para conciliar as facções políticas.
Mas, sem obter muito sucesso, pois as conspirações continuavam até culminarem em violência entre as tropas do rei e as tropas de York, com os Lancaster levaram a vantagem.
Em 16 de dezembro de 1460 ocorreu a batalha de Worsop, onde os York foram derrotados e, mais tarde, em 30 de dezembro ocorreu outra batalha, a de Wake Field, quando Ricardo de York e vários de seus partidários morreram.
Eduardo, filho sobrevivente de Ricardo de York continuou a rebelião e derrotou os Lancaster na Batalha de Mortimer Cross. Nessa ocasião, Eduardo de York executou sumariamente vários adversários importantes e concretizou-se a mais sangrentas das batalhas inglesas, a de Towton (1461) quando então foi coroado rei Eduardo IV (1461-1483).
O Rei Eduardo IV procurou realizar pacificação nacional, perdoando vários membros dos Lancaster e promovendo a conciliação nacional. Porém, com o apoio de França e da Escócia as forças de Lancaster promoveram rebeliões e atacaram castelos e as tropas de York.
Finalmente, Eduardo IV capturou e prendeu o deposto Henrique VI , na Torre de Londres depois de derrotar as tropas de Lancaster. O cenário era insatisfação e a revolta permanecia na Inglaterra, o que acarretou a repressão violenta por parte das tropas reais (as de York) com execução de inimigos, banimentos e confisco de propriedades.
Ricardo de Gloucester atuava como lorde Protetor e Regente e atrasou a coroação de Eduardo IV e, enquanto isso, começou a assassinar os apoiadores da Rainha Elizabeth e de seus filhos.
Por meio de artifício, Ricardo conseguiu que os jovens príncipes fossem considerados ilegítimos, por serem bastardos e, então foi coroado como rei em 6 de julho de 1483, como Ricardo III, o rei-vilão de Shakespeare que reinaria até 1485.
Ainda, em 1483, os príncipes desapareceram da Torre de Londres muito provavelmente assassinados a mando de Ricardo III. Tal fato acarretou revolta na nobreza e começou haver reivindicações ao trono como a de Henrique de Tudor, que era tataraneto de Eduardo III.
Uma conspiração contra o Rei, reuniu a viúva de Eduardo IV e os nobres insatisfeitos com os desmandos de Ricardo III. Mas, a conspiração era liderada por Henrique, de Stafford, Duque de Buckingham foi importante e perigosa.
No entanto, Ricardo III derrotou com a facilidade a rebelião eo duque foi, finalmente, capturado e condenado por traição e, executado Salisbury em 02 de novembro de 1483.
Ricardo III, provavelmente, também mandou executar sua esposa Lady Anne Neville, para poder casar-se com a sombrinha de Elizabeth, de York, e então, consolidar politicamente o reino.
Enquanto isso, Henrique Tudor recebia o apoio de nobres insatisfeitos com o rei da França para uma rebelião contra o rei inglês. Depois de uma rebelião apoiada por tropas francesas, as forças dos Lancaster conseguiram derrotar Eduardo IV e recolocar no trono Henrique VI . Então, Eduardo IV fugiu para Flandres onde reuniu um exército e contra-atacou, derrotando as forças de Lancaster.
Ao retornar para o trono inglês, Eduardo IV prendeu novamente Henrique VI e, então, se estabeleceu um padrão que era composto de traições, batalhas sangrentas, execuções, banimentos e confisco de terras com a eliminação sumária de toda oposição.
Diversas batalhas se seguiram com os York tentando assegurar o controle do reino. E, em 21 de maio de 1471, Eduardo IV ordenou a execução do rei deposto, Henrique V.
Apesar de grandes derrotas de Lancaster nas batalhas de Barnet e Tewkesbury a instabilidade política, as intrigas e traições continuaram. Mas, mesmos depois de tantas turbulências, o Rei Eduardo IV conseguiu reinar até 1483, sem maiores problemas.
Antes de falecer, o Rei Eduardo IV nomeou o seu irmão Ricardo, Duque de Gloucester, como Lorde Protetor e Regente para atuar durante a menoridade de seu filho e sucessor do reino inglês. Porém, o rei não contava com a ambição do irmão mais novo Ricardo de Shrewsbury, Duque de York, na Torre de Londres e prendeu os nobres leais à viúva do falecido rei, a rainha Elizabeth.
Em 22 de agosto de 1484 apesar da superioridade numérica das tropas de York, Henrique de Tudor derrotou Ricardo III, na Batalha de Bosworth Field e morreu durante o combate.
Enfim, em 30 de outubro de 1485, o rei Henrique VII é coroado rei, inaugurando a dinastia Tudor a encerrando um dos capítulos mais sangrentos de toda história da Inglaterra.
Apesar de ter sido realizadas várias batalhas em trinta anos, mas apenas sete delas podem ser consideradas importantes e decisivas, a saber:
1. Batalha de Santo Albano (Saint Albans ) (1455);
2. Batalha de Northampton e Wake Field (1460);
3. Batalha Towton (1461);
4. Batalha de Barnet (1471);
5. Batalha Tewkesbury (1471);
6. Batalha de Bosworth Field (1485).
Em boa parte do período medieval as fortificações ofereceram poderoso bastião de defesa para uma população regional se proteger de ataques e da pilhagem em grande escala que caracterizou a atração de vikings e mongóis.
Neste sentido, os castelos evoluíram como um ponto central de controle e proteção para as elites locais sendo um ponto central de controle e proteção para as elites locais exercerem sua autoridade sobre determinada área.
As fortificações também anularam a arma dominante do campo de batalha medieval: a cavalaria pesada.
A propósito, as batalhas campais eram raras quando em comparação com o período clássico. Provavelmente em razão da reduzida capacidade logística e os altos custos (cavalos, armaduras, treinamentos e, etc.). Quando ocorriam as batalhas, normalmente, eram necessárias, mas esse não era o padrão, pois em grandes batalhas as possibilidades de destruição dos exércitos como forças de combate, assim a morte da liderança desestimulava as batalhas campais.
Ainda que existirem mercenários, seu custo era elevado, então a maior parte dos combatentes eram camponeses e nobres muitas vezes, sem nenhum treinamento. Vejamos que a Guerra das Duas Rosas esquadrinhou diversas particularidades inglesas como:
1. Como no continente, a nobreza tinha muito a perder com um conflito prolongado, as destruições poderiam arrumar castelos e os campos, e provocar redução de mão de obra e de produção. No entanto, os ingleses preferiam as batalhas campais de forma de resolver as questões de forma célere e decisiva;
2. Devido a grande diferença de custos entre armar um cavaleiro e um infante ou arqueiro, os ingleses usavam seus recursos na cavalaria leve, infantaria pesada (lanças, escudos, espadas, normalmente nobres) e a infantaria leve (lanças, alabardas, machados, bestas terre outras armas) arqueiros em formações conjugadas.
Um ponto interessante: os ingleses usavam e abusavam de grandes formações conjugadas de arqueira.
3. Os canhões de mão e arcabuzes tiveram uso limitado, igualmente, a artilharia de campanha. Os canhões eram caros e pesados, sendo difíceis de manobrar e sua captura consistia em um grande prêmio, por isso, os comandantes evitavam de expô-los e, basicamente, os usavam contra cidades;
4. As armaduras deste período se beneficiavam de melhorias da metalurgia, como a invenção do alto-forno que permitiu o uso de armaduras mais leves (de peso aproximado de quinze quilogramas) conjugadas com cotas de malhas. O que era uma boa proteção para os combatentes e, era vantagem para os nobres que preferiam combater de pé.
5. A Guerra dos Cem Anos recrutou e utilizou durante longos anos, uma massa de soldados profissionais (cavaleiros, besteiros, arqueiros e, entre outros) e, estes passavam em França, vivendo em constantes guerras e combates.
Com o término da Guerra dos Cem Anos havia grande disponibilidade de profissionais experientes, doravante desempregados, para a guerra dinástica. Os nobres ricos, associados ou não a burguesa, contratavam efetivos de tamanho e eficiência diferenciadas para comporem seus exércitos e desafiar a autoridade real.
6. Nos derradeiros anos da Guerra das Rosas, o Rei começou a contratação de soldados profissionais em que o rei ou um nobre firmava contrato com capitão que lhe fornecia certo número de
homens com especialidades como cavaleiros, arqueiros, artilheiros, arcabuzeiros, infantes e, etc., por um determinado período.
Esse sistema de contratações era bem similar ao praticado no continente europeu. Havendo algumas mudanças e variações, e tal sistema foi muito utilizado no período moderno.
É sabido que a Guerra das Duas Rosas ocorreu em face da disputa do trono inglês entre duas dinastias, a saber: a de Lancaster e a de York.
A dinastia dos Lancaster possuía a coroa real, um brasão com uma rosa vermelha, já a dos York eram pretendentes ao poder, e tinham um brasão com uma rosa branca e, ambas eram descendentes dos Plantagenetas.
A Guerra das Duas Rosas começou em centros feudais ingleses em defesa de terras que se viram desapossados, durante a Guerra dos Cem Anos, contra os franceses. E, assim, dentro desse contexto, os conflitos aconteceram entre as duas famílias que almejavam o reino inglês.
A família de Edmund Beaufort, Duque de Somerset, da família Lancaster e Ricardo Plantageneta, o Duque de York. Ricardo reivindicava os direitos de Henrique VI e da Rainha Margaret de Anjou enquanto Edmund apoiava Henrique VI de Lancaster que padecia com sérias crises de loucura.
Em meio essa conturbada cena, sobretudo, para a de Lancaster por conta do reinado de Henrique VI e suas periódicas crises de insanidade, bem como as derrotas sofridas na fase final da Guerra dos Cem Anos. Além disso, Ricardo, Duque de York avançou em direção a Londres com um exército de mais de três mil homens derrotando inclusive os soldados reais em 1455 e, aprisionando o Rei Henrique VI dando início, a chamada Guerra das Duas Rosas.
Após conseguir duas vitórias relevantes, a primeira na Batalha de Saint Albans ou Santo Albano em 1455 e a segundo em 1460 na Batalha de Northampton, Ricardo acabou sendo morto na Batalha de Wake Field também no mesmo ano.
Sendo assim, Eduardo IV, da família de York assume o poder um ano depois, na Batalha de Towton. No entanto, em 1470 foi traído pelos nobres do Parlamento que estavam infelizes com sua liderança.
Dessa maneira, o trono inglês retornou para as mãos de Henrique VI, acontecimento marcado pela divisão dos York. Afinal, o irmão de Eduardo, o Duque de Clarence, juntou-se aos Lancaster para derrotar Eduardo IV.
No conflito seguinte, já na Batalha de Barnet, Eduardo IV faz as partes com seu irmão e derrotou o rei e seus aliados, matando o líder e seu filho e, assumindo novamente o trono inglês.
Eduardo IV reinou até 1483, quando finalmente morreu e, teve seu trono apropriado pelo seu irmão mais novo, Ricardo, Duque de Gloucester. A saber, aparentemente ele matou seus sobrinhos para conquistar o poder, com o título de Ricardo III.
Desse modo, os Lancaster resolver conceder o trono a Henrique Tudor, mais tarde, conhecido sob a chancela de Henrique VII. A Guerra das Duas Rosas terminou em 1485 com a final derrota de Ricardo III na batalha de Bosworth e a chegada de Henrique Tudo vindo da Bretanha.
Após a morte de Ricardo III bem como de todos os adversários do rei, Henrique Tudor se casou com a filha de Eduardo IV, Elizabeth de York, para enfim unir as famílias e então, fortalecer ainda mais seu poder.
O saldo final é traduzido pelo nascimento da dinastia Tudor com reinado entre 1485 a 1603, através de um regime absolutista instaurado por Henrique VII.
Ademais, os nobres desse período já não conseguiam resistir ao rei, permitindo que este reinasse sobre toda a Inglaterra de forma soberana. Em verdade, a Guerra das Rosas teve origem na disputa entre senhores feudais ingleses para compensar a perda de seus territórios na França, na Guerra dos Cem Anos. Durante trinta anos, a Coroa britânica alternou-se entre as duas casas o que provocara um enfraquecimento da nobreza.
O conflito teve seu início quando Ricardo, Duque de York e também o maior senhor feudal inglês e ainda aspirante ao trono inglês aprisionou Henrique VI, da Inglaterra e membros da família Lancaster.
Os York foram derrotados em 1460 na Batalha de Wake Field e, um ano depois, Eduardo IV também da casa de York, tomou o trono dos Lancaster, na Batalha de Towton, mas acabou sendo traído pela nobreza e, fora obrigado a devolvê-lo à Henrique VI.
O Rei foi morto em 1471 na Batalha de Barnet juntamente com outros membros da Casa Real de Lancaster. E, dois anos depois, também morreu Eduardo IV e, Ricardo III apodera-se do trono e manda assassinar os sobrinhos, que eram os primeiros na linha sucessória. Finalmente, a guerra terminou em 1485 quando Henrique Tudor derrota de Ricardo III na Batalha de Bosworth.
E, o então novo Rei unificou as duas casas da nobreza inglesa pois era o genro de Eduardo IV, da casa de York e, ligado também a dos Lancaster por parte de mãe. A principal base de sustentação do então Parlamento Inglês era uma nobreza feudal dizimada e arruinada e, assim permaneceu esvaziado.
Henrique Tudo assumiu o trono da Inglaterra sendo aclamado como Henrique VII iniciando a dinastia Tudor (1485-1603) restaurando a autoridade real e o absolutismo na Inglaterra.
Ao término da guerra civil, a Rosa de Tudor uniu o emblema dos Lancaster e dos York. Configurando uma rosa vermelha que englobou uma rosa branca.
Como Ricardo III representou a ineficiência da liderança, provocando um vácuo de poder, o que atiçou a cobiça tanto da nobreza como da plebe e, propagou-se o caos na sociedade inglesa da época. A ganância dos membros da casa de York e de Lancaster e, seus respectivos cúmplices eclodiu a vida política do reino inglês.
E, o único valor remanescente fora a lealdade familiar, particularmente, o dever de vingar os parentes assassinados. Mas, mesmo os laços familiares desvanecem com a subido dos irmãos York ao trono inglês.
Infelizmente, a desordem não se restringia apenas aos nobres. E, as cenas de revolta popular liderada por Jack Cade bem relembram o comportamento da plebe romana na peça de Shakespeare Coriolanus (Coriolano).
Em verdade, Shakespeare nos remete ao fiel retrato das sublevações de massas e seu ódio inato aos burocratas, o escrivão Chatam fora enforcado com a pena e o tinteiro pendurados em seu pescoço, por ter confessado saber ler e escrever, profeticamente, antecipando o movimento anti-intelectualista da Revolução Francesa que levou Lavoisier à guilhotina porque a Revolução “não necessitava de sábios” .
Os arquétipos dos reis Henrique IV, Henrique V e Henrique Vi servem para compreender a tragédia. Shakespeare tenha escrito também Rei João, no início da década de 1590, e, já no reinado de Jaime I, no final de sua carreira, Henrique VIII. Colocadas em sua verdadeira ordem histórica, as duas tetralogias cobrem um ciclo completo que vai de Ricardo II até Ricardo III.
Porém, é nas chamadas “sagas henriquinas” das tetralogias que se pode desenvolver um ciclo histórico e político mais claro: Henrique IV consolida o poder para a casa de Lancaster, centraliza a riqueza e governa com rigor; Henrique V personifica, na peça à qual empresta seu nome, o rei-herói romantizado em seu carisma, em sua valentia e em suas conquistas; e Henrique VI, que é descrito como um bom cristão, mas não como um bom governante, leva a casa de Lancaster à decadência.
Desse modo, as sagas henriquinas tratam, conforme resume Barbara Heliodora, da luta pelo poder no período da Guerra das Rosas, da forma como o poder afeta aqueles que o detém e como isso se reflete na qualidade do governante (HELIODORA, 2016a).
No caso de Ricardo III, por exemplo, Shakespeare acabou definindo-o para a historiografia como alguém feio, corcunda e extremamente mau, e essa tornou-se a visão dominante da grande maioria dos ingleses, independentemente dos próprios fatos históricos. No caso de Henrique V, Shakespeare o transforma em um rei herói na linha de construção mítica dos Tudor, que detinham o trono inglês na ocasião em que o drama foi escrito.
Henrique de Bolingbroke é um personagem relevante da peça Ricardo II, que, considerando o fluxo dos eventos históricos, precede o seu reinado. Shakespeare o retrata como alguém envolvido em uma disputa com Thomas Mowbray (que, assim como Henrique de Bolingbroke, detém o título de duque).
Atuando como árbitro, Ricardo II sentencia os dois querelantes ao exílio e, mais adiante, confisca os bens que seriam herdados por Henrique. Ao violar direitos preestabelecidos e, em última análise, colocar em xeque a hereditariedade, Ricardo II perde o apoio da nobreza, que, sob a liderança do próprio Henrique de Bolingbroke, o depõe.
Assim, apesar de bem-sucedido na pacificação do reino, Henrique IV está longe de ser o personagem que mais atrai a atenção nos dramas aos quais empresta seu nome.
O foco da maior parte das análises recai sobre Falstaff e sua relação com Hal, e não sobre o personagem-título. Harold Bloom, por exemplo, dedica o longo capítulo que escreveu sobre Henrique IV em seu Shakespeare: the invention of the human, praticamente a Falstaff (BLOOM, 1998a).
Falstaff cresceu de tal forma que passou a eclipsar os demais personagens, embora mais adiante tenha sido eliminado para que fosse possível construir a figura do “rei-herói”.
Henrique V foi o rei da Inglaterra entre 1413 e 1422 e levou a Inglaterra à espetacular vitória sobre os franceses na batalha de Azincourt. A peça à qual empresta seu nome aponta para duas interpretações conflitantes. De um lado, uma celebração nacionalista; de outro, uma visão trágica ou irônica dos horrores da guerra.
Rabkin (1977) a associa a uma gravura em que, no mesmo desenho, se pode reconhecer tanto um coelho quanto um pato. Henrique V admitiria as duas interpretações simultâneas, a depender do olhar que se lançasse sobre a peça.
De todo modo, desde o início o rei revela uma espécie de obsessão pela “questão francesa”, que o leva aos preparativos para as ações de guerra. Em sua época, Henrique V era considerada uma peça nacionalista. Escrita aproximadamente uma década após a tentativa fracassada de invasão espanhola pela invencível armada, e ainda no período Elizabetano, e tendo sido a última peça das duas tetralogias shakesperianas, é o ápice da tentativa de se construir a figura do rei-herói.
Em verdade, duas características de Henrique V são destacadas na obra à qual empresta seu nome: seu “amadurecimento”, que o leva a rejeitar sua vida anterior com Falstaff (já que a figura de um rei-herói não se coadunava com a apresentação de Henrique V nas partes 1 e 2 de Henrique IV) e sua capacidade de persuasão, especialmente quando ele, pouco antes da batalha de Azincourt, dirige-se a seus comandados.
Henrique VI é retratado, de modo geral, como um bom homem (no sentido de um homem piedoso), mas incapaz de reinar. O próprio personagem declara não desejar a coroa: “nunca um súdito já quis tanto ser rei quanto eu desejaria ser só súdito”.
Trata-se de um personagem que se mostra um rei inseguro, pouco pragmático e muito influenciável, mais interessado em assuntos de religião do que de governo.
Henrique VI deteve a coroa entre 1422 e 1461 e no curto período entre 1470 e 1471, tendo sido sucedido, em ambos os casos, por Eduardo IV, mais tarde sucedido por Ricardo III.
O encerramento da linhagem dos três Henriques, contudo, é precedido pela profecia que o último deles dirige àquele que encerra a dinastia da casa de York (isto é, a Ricardo III).
Esses arquétipos sugerem que um bom rei cuja legitimidade é questionada é sucedido por um rei heroico, carismático e vitorioso. O desfecho das sagas henriquinas, contudo, é trágico, porque Henrique V é sucedido por alguém incapaz de reinar, embora caracterizado como um bom homem. Desse modo, os movimentos são atribuídos a características pessoais de cada um dos três Henriques.
Nesta seção, argumenta-se que as vitórias obtidas por Henrique V se apoiaram na gestão de seu pai e predecessor (Henrique IV) e geraram um passivo que contribui para explicar o fracasso de seu filho e sucessor (Henrique VI).
Nas sociedades modernas, a gestão fiscal se traduz na gestão do orçamento público. Na Inglaterra dos séculos XIV e XV, as decisões eram essencialmente tomadas pelos reis e pelos nobres em seu entorno.
Porém, ainda que naquelas circunstâncias a concentração de poder fosse evidentemente superior àquela que se observa nas sociedades modernas, quando a alocação e a destinação dos recursos divergem do balanço de forças existente na sociedade, os governantes – sejam eles reis absolutos ou políticos eleitos pelo voto universal – tendem a enfrentar problemas.
Amparada nas análises históricas claramente ecoa nas sagas henriquinas. Com efeito, logo no início de Henrique V, o rei já precisa negociar para obter os recursos necessários para financiar suas campanhas militares sem sacrificar o apoio da Igreja.
A negociação permite que o Arcebispo de Cantuária e o Bispo de Ely salvem do confisco as propriedades da Igreja e o rei obtém, pelo menos no curto prazo, recursos para financiar a campanha na França. Os representantes da Igreja elogiam a devoção de Henrique e o próprio rei tem o cuidado de informar o quanto é cristão.
Embora a guerra fosse uma ação custosa, não havia mecanismos financeiros identificados a priori para financiá-la. Barker (2009) assinala, com relação ao custeio das campanhas de Henrique V, que “se às vezes era difícil conseguir o pagamento de salários, havia outras compensações disponíveis”.
Com efeito, a falta de recursos e a gestão fiscal temerária dificultavam a liquidez para o pagamento de salários. Assim, Henrique V teve que recorrer a outros instrumentos resultantes de doação de terras, por exemplo. Desse modo, a obsessão de Henrique V pela guerra parece que o levava a negligenciar as consequências de suas decisões no médio e nos longos prazos.
É evidente que, no curto prazo, as vitórias de Henrique V contribuíram para legitimar a posição da casa de Lancaster no trono. Contudo, suas conquistas começam a ser revertidas já no início da parte 1 de Henrique VI, na cena do funeral do rei vitorioso.
Um mensageiro traz da França “novidades tristes, de frustrações, perdas e matanças” e anuncia a perda de diversas cidades (inclusive Paris e Rouen). Enquanto o corpo do rei vitorioso ainda era velado, já se anunciava a reversão de grande parte de suas conquistas por “falta de ouro e homens”. Um dos líderes ingleses na campanha da França, Lord Talbot, “com tropa que mal contava seis mil, por vinte e três mil soldados franceses foi totalmente cercado e atacado”.
É razoável presumir que essas derrotas tenham acontecido ainda no reinado de Henrique V, ou que pelo menos já fossem claramente previsíveis antes de sua morte
As derrotas sucessivas, por sua vez, engendraram uma crise política na Inglaterra. Naquele momento, conforme destaca Grummitt (2015), “the debate over fiscal responsibility was one carried on at all levels of political society”.
Mais uma vez, Shakespeare recorre ao Duque de Exeter para manifestar essa percepção: “o conflito nascido entre esses pares queima embaixo de cinza e falso amor e acaba um dia explodindo em chamas”. É oportuno observar que embora vítima da irresponsabilidade fiscal de seu pai e predecessor, Henrique VI – seja pelas condições adversas que enfrentou, seja por seu caráter vacilante – não se mostrou especialmente preocupado com o equilíbrio das contas públicas.
Há poucos dramas de Shakespeare que tão bem expunham as invejas dos nobres e as reivindicações da plebe quando o trono não é adequadamente ocupado.
As deformações físicas do Rei Ricardo III representam emblematicamente o corpo doentio político-social inglês, e, sua distorcida ambição refletia o então comportamento autodestrutivo da Inglaterra. A natureza reveste-se em caos quando o amor está ausente.
A resolução nasceu neste status de coisas, surgiu na figura do novo rei legitimado pela união das facções opostas e, dando início a Era Tudor , a mesma época em que o Bardo escrevia.
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