As palavras se uniam e congregavam meu corpo ao um voo guiado por fantasia e imaginação. Havia leveza, havia os sussurros dos ventos a revelar o imponderável... Na minha alma viajante via tudo se amiudar lá em baixo. Senti a culpa esvair, escoando feito areia numa ampulheta. O tempo passou. A mágoa secou. Mas, a poesia nutria meus voos rasantes que eram perto e longe simultaneamente. Iam até ao infinito no horizonte e, voltavam para o minuto enraizado e silente. E, o resto é silêncio. Depois de todas as tragédias. Depois de sangue, lutas e vitórias. Depois de derrotas e frustrações. Restava tanto a dizer. Tanto a confidenciar ao lirismo prêt-à-porter. Que combinava o cinza do blazer com o do céu a pronunciar chuva... Ou seriam lágrimas disfarçadas com linda destreza da natureza. Naquele dia nublado, onde tudo era cinza, eu me sentia leve, lépida e, em sobrevoo... Como era possível? Havia um certo ar absorto nos olhos, que desfocados e míopes renunciavam aos óculos... Pois, só se vê melhor com o coração. Só com o coração mensuramos o outro, em sua dimensão e profundidade. Todo o restante são suposições acientíficas.
Dejetos inúteis de um condicionamento cultural. Na brutalidade abstrata do ser humano, ainda há muito a aprender.
Precisamos soletrar sentimentos, ler almas e sentidos como placas de trânsito e, depois, de tanto esforço e racionalidade. Amar como os animais. Sem culpa. Sem segredos e, na solidão pacífica dos desejos.