Não conheço o outro.
Não vejo o outro.
Suas pupilas fogem de mim.
O candelabro equilibra as velas
com seus pavios balouçantes.
E num piscar, o brilho de seu olhar.
Sua voz contralto.
Meio grave. Meio aguda.
Amadurece o fonema dito.
Minha solidão perece perante sua presença.
Há incêndios fabulosos a queimar a phênix
Há silêncios tortuosos a embalar a avença.
Retorno ao confronto.
Ao inimigo diáfano
Minha esquálida figura
reverbera os ventos recebidos.
Que passam por mim, como eu não existisse.
A contundência da existência é um átomo.
A aspereza do sentido.
As metáforas esquizofrênicas
suicidando-se diante do entardecer.
Vem a noite.
E, continuo a não conhecer o outro.
O outro é enigma.
O outro é mistério
Vive-se o estigma do adultério...
A traição pontual ou potencial
O elastério das relações humanas.
Dos valores humanos.
Da mercadoria humana
exposta nas prateleiras empobrecidas
da vaidade sem virtude.
Não conheço o outro.
Não consigo ver ou discernir
Tudo é difuso.
Líquido e confuso.
Mutável e mutante
A bailar entre o ser e o estar.
Entre crer ou tocar.
Entre aqui e amanhã.
Na barganha diária.
Ficamos com trocados.
Reles moedas metálicas
a tilintar minha carência
Talvez amanhã
Minha estranheza passe.
Talvez amanhã
Habitue-me com as dúvidas
com as dívidas
com a irremediável culpa
Mea culpa
Mea maxima culpa.
Fadada pela genética.
Gerida pela história
E, despachada pelo tempo.
Existirão novos outros desconhecidos.
Eis o desalento.