Só me restaram as lágrimas.
O silêncio regado por elas
fazia tudo ser fértil.
Só me restaram as lágrimas.
Não havia lamentos.
Não havia lamúrias.
O beco adiante dos olhos ia se afunilando
e os caminhos se estreitando diante dos pés.
Só me restava aquele momento.
Suspenso por mil fios de pensamento.
Flutuante no espaço sem dimensão.
Sem razão e nem sensibilidade.
Enxuguei o rosto...
Limpei a maquiagem que borrou...
E, com rosto limpo e lavado
procurei enxergar as feições do outro...
Ver o outro,
a alteridade,
a humanidade que há nele.
Somos humanamente diferentes, mas
essencialmente iguais.
Iguais na dor,
nas lágrimas,
no espírito embutido num corpo,
habitante do mesmo planeta.
Ainda que as culturas seja diferentes.
Ainda que o idioma seja outro.
E, ainda que semântica e dialética briguem
para disputar o sentido das coisas.
Qual é o sentido, mesmo?
Só vamos descobrir com o tempo.
Com envelhecimento das células.
Com as lágrimas e, principalmente,
com empatia.
Lá fora, as folhas do outono
cochicham, lá vem a primavera...