Estar sem ideias. Mergulhar na metafísica profunda dos sentidos. Não ler símbolos e não compartilhar semântica. Estar sem ideias. Sem diálogo. Sem dialética. Na presença intensa do deserto. Os ventos de longe parecem trazer fonemas. Levantam folhas, prenuncia-se uma chuva. Chuva miúda. Cabelinho de sapo, dizem alguns. Embora nunca tenha visto tal anfíbio cabeludo. A alma a vagar na contemplação deitada no horizonte. E, quando o sol nascer. Despontando em rubras e alaranjadas cores, irradiar o seu calor e nos fazer florescer em plena primavera. A primavera representa um novo ciclo, um nascimento. É preciso regar os jardins, semear para que tenhamos flores, vida e o perfume. A primavera marca o período reprodutivo de muitas plantas, reinstala-se a alegria, o colorido e, nos prepara para o verão. Estar sem ideias não é estar paralisado, por vezes, é apenas reposição de forças e inspiração.Numa fruição divina, entre o tudo e o nada, há o resplendor da essência. As águas turvas tornam-se claras e repeitamos, inconscientemente, as leis do fluxo, refluxo, criação e destruição.