Ele enlouqueceu. Lia poemas em voz alta. Abria a janela e conversava com os passarinhos. Confidenciava às nuvens os pensamentos sombrios. Sua tristeza era pungente. Mas, não existiam lágrimas. Ele enlouqueceu. Escrevia abruptamente cada relâmpago de ideia que lhe acertava. Suas sinapses eram tempestades elétricas. E, toda sua metafísica estava compacta em sua alma. Não era um louco temido, nem violento. Era um louco poético, gostava de Camões, Fernando Pessoa, Florbela Espanca. Mas, também gostava de Mário Quintana, Drummond e Clarice Lispector. Acho que a literatura era a sua tábua de salvação. Sem ela, não conseguiria sorver aquela realidade contemporânea, tão violenta e contundente. Os ventos apunhalavam seu espírito que atormentado, refugiava-se na mais plena loucura. Contava lendas árabes e, a noite tomava escondido conhaque para aquecer o corpo e se esquecer da alma. Suas lamúrias eram poéticas. Sua tristeza era lírica e, suas palavras pareciam mágicas, pois cobria tudo de enigmas e fascinação. Ele estava louco e lúcido. E, eu expectadora oscilava entre a admiração e misericórdia.