Quem dera pudesse chorar as lágrimas de outrem, para não o deixar sofrer as agruras que já percorremos. Amaciar-lhe o caminho, suspender a lei da gravidade e, enfim, deixar-lhe flutuando entre o chão provável e o infinito poente.
Quem dera meus presságios evitar a tragédia já anunciada pelos vestígios. Lacrar a caixa de Pandora, fundear o tridente de Netuno para acalmar os oceanos e, afastar todas as borrascas, ventanias e tufões.
Quem dera que as palavras em seus fonemas mágicos imantassem o universo e num ciclo perfeito e harmônico encontrássemos a luz do conhecimento.
Quem dera os gestos magnetizassem almas, corpos e limpassem sentimentos e, pudéssemos viver em paz na paulatina construção da história. Mas, a história é tocada por muita violência, guerras, batalhas, pestes, e, toda sorte de destruição indefectível e impiedosa.
Os sobreviventes narram seus relatos selvagens encriptados no corpo, na alma, nas emoções e, principalmente, nos gestos. Todos nós juntos tecemos um conto repleto de personagens, imersos em cenários e, em muita prosa e poesia intermitente.
Por vezes, precisamos exprimir certo sorriso suicida capaz de abortar a mais sutil ironia, ou revelar, mais uma face demasiadamente divina para ser simplesmente humana.