Roubo poético
Vou roubar-lhe algumas horas.
Para tê-lo só para mim.
Em silêncio.
Com seu olhar contemplativo.
E, o infinito deitado no horizonte
dormia sobre reticências.
Vou roubar-lhe algumas horas.
Para guardá-lo em um relicário.
Como uma medalha benta.
Como uma divindade
de expressão enigmática.
Queria contemplá-lo
A sua beleza.
O seu corpo.
E, a sua alma difusa.
Seu lépido espírito
a escorrer pelos ventos.
A bradar coragem.
E, a inspirar miragens
em pleno amanhecer.
Vou roubar-lhe alguns escritos seus.
Sua caligrafia bonita e desenhada.
A exalar o perfume de lavanda.
Seus dedos compridos, como
de um pianista.
Mas, você era poeta.
E, eu sem vocação para ser musa.
Mas, você era tanto
E, eu tão pouco.
A vastidão ao lado da iniquidade.
A revoada de pássaros.
O vento frio.
E, a tarde desceu sangrando.
Pela vida que se esvaiu.
O trampolim da dúvida.
A ironia do conhecimento.
E, a tristeza que aborta a culpa
E, vive apenas de responsabilidades.
A violência do tempo.
Que nos envelhece até matar.
Vou roubar-lhe algumas horas.
Para dirimir toda eternidade.