Paulo Freire, mas ele resvalou em um ponto importante ao dizer a conhecida frase que inspira o título desta coluna (“quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”) .
Sim, é verdade, entender a realidade sempre foi algo que o ser humano almejou. Desta forma, os estudiosos conseguiram construir e urdir uma teia de sistemas e teorias complexas sobre os mais diversos assuntos. Principalmente, as teorias linguísticas sobre a natureza da linguagem.
A realidade é dotada de célere dinâmica de forma que quanto algo é observado num certo momento, quando a língua é usada, no instante imediato e seguinte já pode não ser mais daquela forma, pode ter-se modificado, transmutando-se, estar diferente.
É o que se observa na relação sujeito versus objeto que vive em constante alteração. A pura dialética se entorpece com a contradição e a evolução da linguagem depende, portanto, de esforço permanente para que haja uma reelaboração conceitual. Do contrário, arrisca-se comprometer gravemente a evolução do conhecimento.
A linguagem humana vai além de múltiplas combinações fonológicas, morfológicas, sintáticas e estilística. Vai além da semântica e da filosofia da linguagem.
Na obra intitulada “Pygmalion” de Bernard Shaw são exemplos da língua inglesa. Era um grande escritor e crítico literário fundador do teatro inglês. E, nessa peça teatral retratou sua vida amorosa e emocional, foi escrita originalmente para atriz e viúva Patrick Campbell. Essa obra ainda serviu de inspiração para o filme intitulado “My Fair Lady” e, também, para musical homônimo de 1956.
Pygmalion foi um escultor que viajou para Chipre (ilha situada no Mar Mediterrâneo, ao sul da Turquia) em busca da luminosidade peculiar da ilha. Fazia muito calor e, enquanto aguardava o bloco de mármore que encomendara, resolveu passear pela ilha. Iniciou seu trabalho no quarto dia. Decidiu esculpir a figura de mulher. Levou cinco dias para moldar o rosto mais belo que ele já vira.
Já no dia seguinte, começou a esculpir o torso e concluiu a escultura de uma linda mulher despida no vigésimo-quinto dia. E, a chamou de Galatéia. E, resolveu cobri-la de seda e joias. Usou um vestido azul e ficou a observá-la infinitamente. No vigésimo-sétimo dia, estava tão encantado que a retirou do pedestal e a colocou em seu leito. Ela parecia viva. E, ele a amava profundamente. Beijou-a, mesmo sabendo que era de mármore.
No vigésimo-nono dia, participou da procissão e festividade em homenagem à Vênus quando lhe fez um pedido, que concedesse que a sua Galatéia fosse uma mulher de verdade. Somente retornou ao seu quarto no final do dia, na noite do trigésimo dia. Quando novamente beijou-a. Descobriu-a e abraçou-a acordando-a. Galatéia abriu os olhos e, enfim, estava viva. Vênus havia atendido seu pedido.
Interessante notar que o dialeto inglês chamado cockney possui pronúncia distinta e seus falantes utilizam gírias que rimam, resultando numa construção que consiste em trocar uma palavra comum por uma frase contendo duas ou três palavras. Em verdade, o referido sotaque pode não ser entendido pelos ouvintes que não estejam familiarizados. Não pertence ao inglês padrão.
Na peça de Bernard Shaw observou-se a versão mais atualizada do mito de Pigmaleão. Em verdade, Eliza Doolittle, inicia a cena como uma mulher do povo, oprimida, que fazia uso de uma linguagem não privilegiada, usava o dialeto cockney e mesmo depois de meses de aulas de fonética com o professor Higgins, tem sua fala e maneiras de se comportar transformadas.
Tornando-se uma dama da alta sociedade da época. Impondo-se como mulher independente e, essa atitude faz com que seja admirada pelo seu professor.
Trata-se de um exemplo de uma pessoa que não utilizava norma padrão e faz opção de usá-la para galgar relevância social. Mas, o contrário é possível de acontecer, quando a pessoa se decide por continuar usando a fala fora do padrão.
De fato, os linguistas não podem tratar de forma estática e preconceituosa os comportamentos de fala das pessoas de diferentes classes sociais.
Afinal, as novas formas de comunicação estão sempre surgindo. É o caso da grafia usada pela internet em sites e grupos sociais, ou até mesmo no bojo de mensagens de textos escritas e enviadas pelo celular. Caberão aos linguistas e foneticistas aceitá-las, entendê-las, descrevê-las e incorporá-las às novas teorias linguísticas.
Lembremos que o conhecimento é eterno desafio infinito. O novo surge e incorpora as transformações, seja por progresso científico, social ou humanístico.
A peça de Shaw que foi escrita em 1913 narra a história de uma mulher do povo transformada em mulher da alta sociedade. Assim, Eliza, uma mendiga que vendia flores pelas ruas de Londres, ao conhecer o professor de fonética Higgins e sua incrível capacidade de descobrir muito sobre as pessoas apenas através de seus sotaques.
Quando ouviu o horrível sotaque de Eliza, apostou com o amigo Pickering que é capaz de transformar a simples vendedora de flores numa dama da alta elite inglesa, num espaço de seis meses.
Quanto ao mito de Pigmaleão, segundo Ovídio, que era poeta romano. Pigmaleão era escultor e o rei de Chipre se apaixonou pela estátua que foi esculpida ao tentar reproduzir a mulher ideal
A deusa Afrodite (Vênus) apiedando-se dele e atendendo ao seu pedido, não encontrando na ilha uma mulher, que em beleza e pudor, chegasse aos pés da que Pigmaleão esculpira, transformou a estátua em mulher de carne e osso, com que o escultor se casou e, nove meses depois, teve uma filha chamada Paphos, que deu nome a uma cidade na ilha.
O mito de Pigmaleão e Galatéia é usado na Psicologia e Filosofia quando se cogita sobre a idealização do ser amado e, que quanto mais desejado e perseguido, acaba por tornar-se personificado, assim como Pigmaleão que tanto amou e desejou Galatéia que conseguiu, finalmente, que ela ganhasse vida.
Para os estudiosos, alcançar a sonhada perfeição pode ser algo frustrante, já que não podemos olvidar que o outro também tem personalidade própria e, assim encontrar alguém que corresponda inteiramente aos nossos desejos seja praticamente impossível.
Enfim, devemos dar nossa contribuição às pessoas, principalmente, as que nos cercam, fazendo com que se tornem melhores sobre uma projeção que nós mesmos, fazendo delas, que tenham expectativas positivas, para obter o melhor de cada uma das pessoas.
O chamado efeito Pigmaleão, também denominado de efeito Rosenthal é para os psicólogos, a noção de que quanto maiores as expectativas que se têm em face de uma pessoa, maior será seu desempenho.
A ideia de incentivos do efeito Pigmaleão é tão forte que fora denominado de profecia autorrealizável por Robert Merton. Se bem, que na verdade, o primeiro estudioso a tratar do tema foi o psicólogo social Douglas MacGregor na década de sessenta. O psicólogo mostrou que a expectativas dos gerentes sobre seus colaboradores afetava seu desempenho, se esperasse coisas positivas, essas pessoas tendiam a vir a ser positivas, no entanto, se tinham expectativas negativas, provavelmente também seriam confirmadas.
Noutros termos, ao ver o outro como difícil, ou inacessível ou até como inimigo, esse tende a agir como se o outro realmente fosse assim, acarretando o fechamento para a colaboração e a tornar-se parecido com a imagem criada. Afinal, quem nutre expectativas ruins sobre os outros, não acredita nestes e não vê suas qualidades, e costuma colher o que há de pior dessas pessoas, já quem tem expectativas positivas, tendo a obter o de melhor há em cada uma das pessoas.
Rosenthal e Jacobson concluíram que ao majorarem as notas dos seus referidos alunos, os professores mudaram sua postura sobre estes, se tornando seus encorajadores, comprometidos com o aprendizado. A afetuosidade, a cumplicidade, entusiasmo e confiança dos professores influenciaram positivamente o desempenho deles.