Eu hoje escrevi uma poesia atrapalhada. Que rimava poesia como heresia e, depois com distopia.
Ficava mirando os paradoxos infindáveis da vida... Onde dividir é multiplicar e, subtrair é somar.
Trata-se de uma matemática metafísica, onde almas multiplicam energias. E, os fonemas entoam mantras capazes de ressuscitar mortas esperanças.
Eu hoje escrevi uma poesia atrapalhada. Ela era muambeira, trazia da infância brincadeiras.
De rimas e de guloseimas... Lembrei do doce de jiló... Depois o da goiabada cascão, e do queijo minas ...
Aí, a gente comia romeu e julieta. Ninguém morria envenenada e nem de amor.
A poesia tropeçava no asfalto. No ranço bolorento. E, nos sentimentos negativos.
Na minha infância, não tinha ninguém que fosse feio, gordo ou sozinho. Não tinha também maldade.
As pessoas tinham brilho nos olhos e, diamante no coração que o tempo lapidava.
Sempre tinha uma velhinha boa a nos ensinar algo útil... lembro-me de minha avó que me ensinou cerzir meias... encontrei no fundo do armário uma dessas que remedei... fiquei a mirar os pontos e a delicadeza que eu um dia eu tive...
Eu hoje lembrei de tanta coisa, do medo que tinha do rato, e nenhum medo da barata... e,
do silêncio no final da tarde, ao ver o sol se pôr, em seus tons alaranjados e sangrentos.
Contando pro mundo as dores do dia que passou.
Tem dias, que a saudade aperta o peito... e suspiramos profundamente. Mas, ainda temos que sobreviver.
Amolando facas. Cortando as ervas daninhas. Plantando hortaliças e, toreando com essa arte esquisita que é gostar de escrever...