No exato instante que o entardecer bordava os céus em diferentes tons alaranjados, ia nascendo a noite com
sua penumbra misteriosa e a luxuosa Lua. O amor habitava a alcova, manchava os lençóis e a vida montada em corcel rubro atravessava o ar num trote elegante e enigmático. De repente, as feridas, as cicatrizes e as doenças
eram apanágios fáceis de serem superados, no criado mudo em sua gaveta guardava uma imagem estampada de São Jorge, santo guerreiro e, capaz de renovar as forças de quem insiste em sobreviver apesar das intempéries. Caetano estava convalescente, pois havia se curado de uma pneumonia e, carecia de atenção e cuidados. Heloisa, sua prima, que lhe dedicava atenção e cuidados como se fosse enfermeira. Curou-se o corpo. Mas, seu espírito era arredio, flutuava para além do palpável horizonte. E, mergulhava no infinito procurando sensações, desafios e amores eventuais. Caetano não queria conhecer âncoras e, sim, a imensidão dos oceanos e, a bravura de soltar-se. Heloisa e Caetano eram personalidades quase opostas. Uma adorava as rédeas e as amarras. Outra, amava a liberdade acima de tudo e, temia profundamente ser algemado numa relação. O seu tempo para um, era apenas o presente. Já, para outro, eram todos, o presente, passado e, principalmente, o futuro... Cheio de perspectivas e prorrogações sentimentais... Depois, de algum tempo de namoro, Heloisa resolvera encostar Caetano na parede e, saber ao certo, se poderia ter esperanças maiores e ambições concretas. A empreitada acabara desastrosamente. E, Caetano não apenas revelara seu amor incondicional à liberdade como pedira, humildemente, para que permanecessem primos e amigos e, não mais, amantes. O segredo da pomba é portar a mensagem, e ainda voar livremente, ainda que volte para os pombais. E, percorra caminhos repletos de idas e vindas, porém, sem jamais prender-se na imensidão dos céus.