Heloisa recitava o soneto "As Pombas" de Raimundo Correia. Era um poeta expoente do movimento parnasiano brasileiro. Com sua voz de soprano contralto, recitava: "Vai-se a primeira pomba despertada. Vai-se outra mais...mais outra... enfim dezenas. Das pombas vão-se dos pombais, apenas. Raia sanguínea e fresca madrugada. (...) Também dos corações onde abotoam. Os sonhos, um a um, céleres voam. Como voam as pombas dos pombais. No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles ao corações não voltam mais". O voar das pombas é comparado com as fases da vida humana e a pomba é símbolo da pureza, da paz e da elevação espiritual. A pomba é a conexão do céu e da terra, frequenta ambos ambientes e conhecem a efemeridade e o infinito, Mas, os sentimentos humanos são tão transitórios... Heloisa estava apaixonado pelo jovem português, recém-chegado ao Brasil, que fugira de Portugal por conta da ditadura que só fora derrubada com a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974. O salazarismo era um regime duro e fez muitos portugueses saírem da terrinha. O jovem se chamava Caetano e tinha pavor de temas políticos, tudo que queria era apenas trabalhar, e fugir de embates ideológicos de qualquer espécie. Caetano era um ser assustado, e aqui Heloisa vivenciava a ditadura militar que comparada com as narrativas do português, parecia ser branda... O salazarismo foi um regime autoritário, conservador e nacionalista e de inspiração fascista. Heloisa estava se envolvendo com Caetano e pensava casar-se e ter filhos. Mas, Caetano idolatrava a liberdade e, não pensava num projeto tão arrojado. Enfim, Caetano havia se casado com a liberdade. E, queria viver tal qual as pombas a voar e a voltar, sem se preocupar com sonhos. Sonhos que aos corações humanos não voltam mais...Esse era o segredo da pomba que só a poesia poderia realmente revelar...