Todos nós seguíamos bêbados na estrada. E, o dia nascia nos quintais entre cores vibrantes e o silêncio dos grilos.
As sombras cresciam com passar das horas e se cumprimentavam amistosamente. E, todos dormiam ainda, na manhã recém-nascida. De tudo que vivemos e sofremos havia um tanto irreparável. O apocalipse era quase cotidiano, e as rezas e novenas persistiam em apelar para o metafísico. Afinal, ninguém sabia ao certo que o mundo ia acabar. Quais seriam meus últimos pensamentos? E, as últimas palavras? Obedecerão à gramática? E, a pontuação? José escolhia os pronomes com cuidado e respeito. Helena, amava os adjetivos, principalmente, os superlativos. Preciosíssima, sempre. Enquanto isso, Arthur não dizia nada e esperava a eternidade do instante seguinte. Eram três irmãos, da mesma mãe e do mesmo pai. Mas, eram criaturas de temperamentos diferentes... paradoxalmente diferentes. Inclinações humanas, desejos e, qualidades diversas. Helena gostava de dançar e de ouvir música erudita. José era uma pessoa prática, adorador das Matemátcas e ciências exatas... Arthur era tímido e introspectivo. Tinha um olhar melancólico, quase poético. Helena era professora primária. José era engenheiro e Arthur era artista, gostava de pintar suas telas à óleo, com figuras abstratas. Os três irmãos permaneceram solteiros e, o tempo passara. Agora só tinham uns aos outros... E, na solidão da estrada precisavam aprender a conviver com respeito. Nesse brejo de almas, encharcado de tristeza. Todos esperam a morte tal como um sacramento. Helena colhia margaridas. José fazia planilhas e, Arthur desenhava o abismo entre as cores azul, violeta e vermelho. E, assim, minha narrativa naufragava diante os olhos ciosos, pensando enxergava o mundo em seu oceano de paradoxos. Os três precisavam continuar aprender a navegar.