Trouxe-me esse vento
essa poesia
repleta de odores e recordações.
E, o vento vai até o horizonte.
E, volta.
Novas informações me traz
Até os pulmões.
Até as papilas gustativas.
Lembro do doce da infância.
Da descoberta do doce.
Do açucar do olhar de minha avó.
Depois, outros ventos
visitam as alcovas
Reviram papéis,
distribuem rimas aleatórias.
E, uivam como lobos
para anunciar a matilha.
O vento deu rodopio.
Assobiou.
E, no meio da mata
Recrutou caiapós, sacis e caiapora.
De pés virados.
De narinas fumegantes
E, de gorro vermelho deixado, por acaso.
As lendas, mitos e canções de ninar
Se misturam nas memórias de meninice.
As saias rodadas.
As rendas delicadas a enfeitar as ancas.
E, outros tufões reviram
o passado. Lembro do vestido branco
bordado a mão com margaridas delicadas.
Nenhuma primavera foi tão bonita
quanto aquela que saiu das mãos de minha avó.
Ele tinha o dom de embelezar tudo.
Até a dor, dita por ela era bonito.
Era ditosa...
Dor, mestra da vida.
Rigorosa mas fiel.
Dor, soberana e amiga.
Capaz de fazer crescer
E, sobreviver.
No fim, mais uma brisa
ecoava flanando
leve, depurando a areia.
Decantando espíritos.
E, purificando uma alma arredia.
Que se debatia para continuar
a sobreviver...